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3 princípios que você deveria levar a sério antes de começar a investir em Tecnologia

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A melhor tecnologia é a que seja o mais aderente possível ao contexto presente, ao mesmo tempo que permita manter a organização relevante e viável no contexto futuro.

Por Daniel G. C. de Toledo, Engenheiro Mecânico

 Em um momento em que as novas tecnologias e seus efeitos – positivos e negativos – estão entre os extremos do entusiasmo por um futuro próspero e do temor por um futuro distópico, recebi com grande alegria o convite para contribuir com o portal de conteúdo do Clube da Construção Civil (C3) sobre Tecnologia em Projetos.

Pretendo abordar neste espaço temas que vão além da tecnologia, assim como temas que a precedem. Existe uma relação dialética entre tecnologia e sistemas sociais, de forma que é impossível tratar de um sem tratar do outro.

Na antropologia, a Pré-História está dividida em fases que levam o nome de Idade da Pedra Lascada e Idade da Pedra Polida. Roma seria Roma sem o domínio de avançadas tecnologias construtivas, como o concreto, que permitiram a edificação de cidades sofisticadas que serviram de infraestrutura e cenário para um complexo sistema social, político e econômico? Seria o Renascimento possível sem a imprensa de Gutenberg, que possibilitou a criação de uma ampla e intensa rede de colaboração entre notáveis dos campos das artes e das ciências? E seria possível a inovação da imprensa de Gutenberg sem mudanças sociais, políticas e econômicas que antecederam seu advento? Aí está a relação dialética entre tecnologia e sociedade, onde causa é efeito e efeito é causa.

Esta relação é o mais importante – e também negligenciado – princípio da Inovação. Há uma tendência de analisarmos tecnologia como algo independente do contexto, como algo que tem um fim em si mesmo. A atual euforia com tecnologia pode fazer tão mal para os negócios quanto o seu oposto, a aversão às inovações. A partir do equívoco de que a melhor tecnologia é a última, assim como do equívoco de que a melhor tecnologia é a que o cliente está comprando hoje, muitas empresas ficaram pelo caminho nas últimas décadas. Na verdade, decorre deste princípio, que a melhor tecnologia é a que seja o mais aderente possível ao contexto presente, ao mesmo tempo que permita manter a organização relevante e viável no contexto futuro.

O segundo princípio é o timing. Imagine um industrial hipotético que na década de 1970 tivesse construído uma fábrica de tornos mecânicos pouco tempo antes de as máquinas CNC (de comando numérico) dominarem o chão de fábrica. Perder o timing pode ser devastador para uma organização. E mesmo os mais capazes e diligentes gestores podem perder o timing, pois ele acontece entre a certeza e a incerteza. Reconhecer sua natureza imponderável não deve ser motivo para deixá-lo a cargo da sorte ou do azar. Diversas técnicas de gestão podem e devem ser aplicadas em busca de sincronizar contexto presente, contexto futuro e tecnologia. Antecipo ao leitor que pretendo abordar este tópico mais a fundo em minha próxima coluna (BIM alert!).

O terceiro princípio é que a inovação, ainda que seja fruto da competição, ganha vida através da cooperação. Ela não acontece entre as nossas duas orelhas e nem nos limites das paredes dos nossos escritórios. A inovação depende de uma eficaz interação entre indivíduos, empresas, academia e formuladores de políticas públicas. Por isso é crucial apoiarmos e participarmos de nossas associações, de entidades como o C3, fazer benchmark, construir alianças com clientes, pares e fornecedores, assim como interagir e apoiar a pesquisa acadêmica de nossas Universidades.

Um futuro próspero, com o qual possamos nos entusiasmar, dependerá de que nos próximos anos a cooperação seja protagonista na cultura das organizações. Diante de enormes desafios como a mudança climática, o déficit habitacional, a radical transformação demográfica, de trabalho e de renda, entre tantos outros, a melhor alternativa é cooperarmos por uma indústria competitiva e sustentável. Inovar é preciso.

Daniel G. C. de Toledo Engenheiro Mecânico pela Escola Politécnica da USP, é sócio e CEO da Königsberger Vannucchi Arquitetura

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