Colunistas Flavio Picchi

Transformação lean na construção: por onde começar e como ampliar?

transformação lean

Que o interesse pela transformação lean vem avançando rapidamente na construção brasileira é inquestionável. Cada dia que passa, mais construtoras começam a utilizar o lean. Mas muitas ficam em dúvida sobre como começar essa jornada. Iniciando por uma obra piloto? Envolvendo o escritório desde o começo? Como evitar altos e baixos?

Mesmo empresas que já testaram algumas ferramentas da mentalidade enxuta têm dúvidas sobre como dar continuidade ou como ampliar os bons resultados obtidos.

Não existe uma fórmula única para uma transformação lean. Cada companhia tem uma situação e um momento. Mas alguns cuidados podem ajudar na construção do caminho específico para sua empresa. Trago algumas dicas nesse sentido, colhidas da experiência que tenho tido apoiando empresas de construção e de outros setores.

Implantar o lean é, antes de mais nada, um processo de aprendizado. Lean só se aprende fazendo. Portanto, começar por uma obra piloto faz sentido. Muitas empresas têm um perfil de obras semelhantes, e o aprendizado numa obra piloto pode servir de base para a propagação futura às demais obras.

Mas algumas construtoras usam essa estratégia de maneira errada. Focam somente no resultado específico daquela obra. Conseguem benefícios, e a equipe da obra incorpora algumas práticas lean, mas muitas vezes essa experiência se perde. Parte da equipe vai para outras obras ou até sai da empresa, e a gestão lean não tem continuidade.

Uma forma de aproveitar melhor uma obra piloto lean é encará-la desde o começo como parte de uma transformação maior da empresa. Não como um projeto para salvar ou melhorar o resultado de uma obra, mas sim como um primeiro passo de uma transformação estratégica da empresa. Nesse ponto, o entendimento da liderança de que o lean vai muito além da simples aplicação de ferramentas na obra é fundamental, como discutimos em uma coluna anterior.

Isso faz toda a diferença. Por exemplo, criando desde o início uma governança lean, ou seja, processos de apoio e acompanhamento com multiplicadores lean internos, que vão captar no piloto todas as mudanças de gestão que podem ser padronizadas para a empresa toda. Dependendo do porte e da complexidade da empresa, isso pode ser iniciado com pessoas de algumas funções, como planejamento e qualidade. Conforme o lean se expande na empresa e traz resultados, a necessidade ou não de pessoas dedicadas vai depender de cada situação, mas o planejamento da captação dos aprendizados da obra piloto precisa existir desde o começo.

Outro fator importante é envolver todas as áreas da empresa desde o começo. Para que uma obra funcione com grande produtividade, melhorando prazos, custos, sustentabilidade, qualidade e segurança, ela depende de todas as demais áreas da empresa, como planejamento, projeto, compras e RH. Portanto, essas áreas precisam estar envolvidas e apoiando a aplicação na obra piloto desde o início, pelo menos entendendo o seu papel em garantir o fluxo contínuo na obra, mesmo que a aplicação específica do lean mais completa em suas áreas seja uma iniciativa posterior.

O último elemento que destaco é a atenção aos aspectos comportamentais e culturais. Lean vai muito além de somente colocar quadros ou cartões do sistema just-in-time. É antes de mais nada uma grande mudança na forma como as pessoas interagem e resolvem problemas. Nesse sentido, é fundamental que a liderança atue motivando e apoiando as pessoas na ponta, sejam equipes próprias ou subempreiteiros. Atuando como verdadeiros mentores, desenvolvendo os solucionadores de problemas na base.

Iniciar por uma obra piloto não é a única estratégia possível. O importante é entender qual problema precisa ser resolvido agora para a empresa ser mais competitiva. Em alguns casos, pode fazer sentido iniciar pela aplicação do lean de outra forma (por exemplo, desde o projeto ou na cadeia de fornecedores). A evolução vai com certeza abranger todas as áreas da empresa, mas é importante definir um foco, colher resultados, e avançar passo a passo, sempre com uma visão abrangente e de impacto na satisfação dos clientes e no negócio.

Espero que estas reflexões sejam úteis para a discussão, com seus colegas, sobre os melhores passos para a transformação lean, adequados a o que sua empresa precisa no momento e pavimentando o caminho para uma jornada sustentável e de sucesso.

Sobre o autor:

Flávio A. Picchi: Presidente do Lean Institute Brasil e Professor da Unicamp.

Contatos:

www.lean.org.br

https://www.linkedin.com/in/flavio-augusto-picchi-3951184b/

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