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Profissionais do setor da construção civil apontam caminhos para o Pós COVID-19

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Em dois dias de videoconferência, nove profissionais da área relataram os impactos do coronavírus (pós COVID-19)no mercado imobiliário e no setor da construção civil.

Após dispararem 106% na Bolsa em 2019, maior alta setorial do Ibovespa, as empresas de construção civil entraram em 2020 em ritmo claro de bull market – e chegaram a despontar desconfianças de que estariam se aproximando de um fenômeno de bolha. O coronavírus, no entanto, interrompeu bruscamente esse movimento.

Para compreender o impacto dessa pandemia no mercado imobiliário e na construção, acompanhamos duas videoconferências com profissionais das áreas, realizadas por: EnRedes, CTE e Rede Construção Digital. O debate foi coordenado por Roberto Souza e teve o objetivo de discutir o cenário atual no segmento imobiliário e construção civil através dos depoimentos de cada membro da cadeia construtiva – empresa de capital aberto, incorporadoras, engenheiros e projetistas.

Os dois temas escolhidos foram baseados na atualidade – os impactos do coronavírus no mercado imobiliário e no setor da construção civil, e o cenário da industrialização da construção nesses tempos.

A primeira etapa da conversa, realizada em (06/04), contou com a participação de Daniel Toledo, CEO da Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados; Mario Rocha, fundador da incorporadora, Rocontec; Emílio Fugazza, Diretor Financeiro e relações com investidores da Ezetec; Eduardo Caram e Paulo Henrique Estefan, da empresa de elevadores, Thyssenkrupp.

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Créditos: Enredes.

Impacto da pandemia na cadeia produtiva, é um dos maiores desafios dos últimos 30 anos. Durante esse período o setor acompanhou as transformações e sofreu com interferências econômicas e políticas, no país e no mundo.

Com um cenário estagnado e negociando apenas ¼ das vendas, a saída para a EZTEC foi colocar 42% da equipe em férias e uma série intensa de medidas operacionais de higienização e controle da transmissão. 

 “Estruturas paradas, um modus operandi com todos os setores da empresa estacionado – marketing e vendas de compras de terrenos. Em quarenta anos de companhia, nunca vivemos um momento igual a esse”, conta Emílio Fugazza.

No escritório e nas vinte e seis obras, Mario Rocha descreve que o primeiro momento foi de incerteza, mas, mantiveram uma posição de confiança na empresa. “Imaginamos alguns cenários como medida de prevenção contra crise, nossa preocupação foi imaginar como faríamos para não gerar um impacto social muito grande com a nossa equipe, colocamos uma enfermeira em cada obra para dar acompanhamento em alguns casos.”, descreve Mario Rocha. A empresa instalou um rodízio de engenheiro, criaram três turno de alimentação e cada funcionário tinha o seu equipamento.

Projetar em BIM, cada um em sua casa, esse foi um dos desafios da  KV. A empresa conta com uma carteira de projetos bastante diversificada. Hoje são 50 projetos, distribuídos em 10 municípios, entre eles – escolas, escritórios e urbanismo. “Sem a colaboração de todos da equipe, não seria possível. Entendemos que quem precisava, deveria ir pra casa e em 11 de março, todos levaram seus computadores, montamos a nuvem da KV e começamos a redesenhar nosso jeito de trabalhar.”, afirma Daniel Toledo.

A multinacional, Thyssenkrupp Elevadores, definiu algumas prioridades para esse cenário. O grande desafio foi reduzir os 600 funcionários da fábrica, na cidade Guaíba (RS). “Criamos um comitê de crise que se reúne todos os dias as 7h30 da manhã e discutimos qual protocolo seguiremos, definimos dois pilares – saúde física e mental dos funcionários e adequamos a nossa empresa a essa nova realidade.”, segundo Paulo Henrique Estefan. A saída foi reduzir em 50% o número de funcionários entre fábrica e operacional.

Aumento no setor em tempos de crise – o crescimento da industrialização

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Créditos: Entedes.

A segunda parte da conversa, realizada em 16/04, trouxe depoimentos de quatro profissionais que em contrapartida abordaram a industrialização da construção em tempos de coronavírus.

Em outubro de 2019, foi divulgada uma Pesquisa Industrial Mensal, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os dados demonstraram crescimento da produção industrial brasileira em 0,8% na passagem de julho para agosto. A alta ajudou na recuperação da parte da perda de 0,9% acumulada de maio a julho do mesmo ano. Um cenário com boas perspectivas que foi abalado pela atual crise, ocasionada pela transmissão do novo COVID-19. As empresas tiveram que controlar a crise e diminuir os custos, em todos os sentidos.

Para abordar esse tema no atual cenário, participaram desse segunda Webnar – Flávio Cambraia Vidal, Gestor Executivo da MRV; Everaldo Ramalho, Diretor Técnico da Bueno Netto Empreendimentos Imobiliários; Caio Bonatto, Fundador e CEO da TecVerde e Ricardo Mateus, fundador da Brasil ao Cubo.

Depois dessa crise, o que os clientes irão preferir – alugar ou comprar? A  MRV, tem tratado a industrialização da construção de maneira plural. Tem se transformado em uma plataforma industrial e, segundo Flávio Cambraia Vidal, querem acompanhar o cliente ao longo da trajetória.

Além de operarem em 250 canteiros de obras no Brasil, o Gestor Executivo conta que esse ano a empresa lançou uma startup Luggo, para atender ao mercado de locações. “Ao longo desses quarenta anos a MRV sempre investiu em inovação, hoje estamos presentes em 160 cidades do Brasil, em todas as regiões. Seja investindo em paredes de concreto, sendo em tubulações e também na era digital, o BIM é realidade na empresa.”, conta Flávio Cambraia Vidal.

A evolução no setor da construção civil é sentida no valor dos imóveis. Nos últimos 15 anos um apartamento popular custava o mesmo que um carro popular, hoje esse valor triplicou. Fundamental a produtividade no contexto de hoje. Falar em industrialização é apontar soluções para questões reais, como déficit habitacional, e imaginar como uma família de baixa renda que ganha menos de três salários mínimos consegue alcançar o objetivo da casa própria.

“Se fosse possível reduzir o custo do imóvel através da produtividade, seria  a mesma coisa que ter 5 mil ou 6 mil em descontos através de subsídios do governo.”, conta o fundador da TecVerde.

Antes de ter uma tecnologia definida é necessário um propósito muito forte, diz Caio Bonatto. O empresário criou, a TecVerde, uma empresa com visões sustentáveis. Esse propósito, ao qual Bonatto se refere, pode ser visto na zona sul de São Paulo, um projeto que junto com Ricardo Mateus, e outras empresas, entregaram em menos de 40 dias o hospital do M´Boi Mirim, que foi construído com a tecnologia modular para atender aos casos de COVID-19 exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O momento solicita reinvenções de empresas e diretores. Alguns especialistas da construção civil, descrevem que produzir o maior número de peças na fábrica e montar na obra, é uma das medidas indicadas para reduzir o custo de um projeto.

“É necessário ter um limite, mas, tirar a atividade do canteiro, é pensar em um ambiente mais salubre como é a fábrica. Lá você consegue ser mais eficiente, o emprego não some, ele muda de lugar.”, afirma o Diretor Técnico da BN Engenharia, que tem experiências em vários investimentos, tanto na construção popular, quanto em alto padrão.

A chave da história da construção brasileira pode ser o aumento da produtividade, a chamada habitação de interesse social. Aproveitar os momentos de crise para criar novas perspectivas é enxergar os possíveis problemas e pôr em prática as soluções que não eram vistas com a corrida assoberbada do mercado.

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