Colunistas José Marmo

Plataformas industrializadas R 3.0 e R 4.0

Escrito por: J. Marmo – Sócio-fundador / Chefe de Engenharia – @lliance FBT

Senhores, no artigo de hoje falaremos sobre nossas convicções em relação aos processos industrializados dentro da construção civil. 

O mundo está caminhando a passos largos para a industrialização dos processos; e porquê? Porque, atualmente, e cada vez mais pensando em um futuro mais competitivo em todos os setores, as indústrias e empresas de construção civil não se sustentarão se não fizerem uma verdadeira revolução em seus sistemas visando um sensível aumento de sua produtividade. Uma coisa é certa: quem opera seus processos com mão de obra intensiva, não se sustentará a médio e longo prazo.

Atualmente estamos lidando com um apagão de mão de obra, e eles serão cada vez mais frequentes e intensos em todos os segmentos. Apesar de em nosso setor alguns utilizarem o termo “indústria da construção civil”, cá entre nós, sabemos que de indústria nada tem; é um sistema totalmente manufaturado!

Nota-se que o “sistema” está obsoleto, a partir do momento em que ele opera com mão de obra intensiva, tornando-se cada vez mais difícil de ser controlado e com patologias recorrentes. Um exemplo clássico disso é o sistema de fachada argamassada.

Também é importante notar que seus custos operacionais (canteiro e pós ocupação), são cada vez maiores, com prazos cada vez mais alongados, reduzindo as margens financeiras das construtoras e ao mesmo tempo inibindo a atração de novos clientes;

A escala, que sempre foi uma aliada importante da indústria, se tornou uma barreira para a padronização dos processos, aspecto fundamental em sistemas industrializados. A partir do momento em que sistemas manufaturados trabalham sem padronização, o negócio se torna insustentável. 

HISTÓRIA

Voltando um pouco ao passado, falar sobre industrialização inevitavelmente nos remete à 2ª Revolução Industrial (1850-1945). Em meados de 1909 o visionário Henri Ford desenvolveu o modelo de produção “Fordismo”, tido hoje como o início da industrialização dos processos. O novo método revolucionou a indústria automobilística através das “Linhas de Montagem”, passando, anos depois, a ser adotado ostensivamente por outros segmentos da indústria. 

Aliás, a 2ª Revolução é também conhecida como a “Revolução da Produção em Massa” pois possibilitou o aumento da escala de produção, reduzindo os preços dos produtos e dando acesso aos mesmos à população de classes mais baixas. Foi a partir dessa nova realidade (1909), que surgiram as palavras:

Chão de fábrica: lugar sagrado na indústria, equivalente ao nosso canteiro de obra;

Linha de montagem: o local mais importante do chão de fábrica, onde toda produção é organizada;

Ciclo de produção:  prazo que define o tempo conclusão de seu produto;

Fluxo contínuo de produção: conceito baseado no pensamento “Lean”, “A produção não para”.

Melhoria contínua: conceito baseado na análise de indicadores e correção de falhas. O produto seguinte sempre deve ser melhor que o anterior!

Desenvolvedores: colaboradores totalmente comprometidos com a produção e a melhoria contínua dos processos.

Logística: integração de todos estes pensamentos e conceitos.

Voltando a falar sobre industrialização da construção civil, com o passar do tempo, notamos ser necessário a quebra dos fundamentos do sistema antigo e defasado (C 2.0), que já perdura por meio século. Precisávamos de um novo sistema construtivo que fosse disruptivo.

Lembro-me que a 1ª vez que ouvi falar em ciclo e fluxo contínuo de produção na construção civil, foi em 1978 na primeira empresa que trabalhei, a Gomes de Almeida Fernandes (GAF). Foi nesta época que o engenheiro japonês, Toshio Ueno, criou o sistema de formas prontas baseado em uma estrutura convencional de pavimentos tipo com pilares, vigas e lajes. 

Com ciclo de produção de 1 pavimento a cada 6 dias, o emprego do sistema industrializado de formas prontas resultou em uma sensível melhora da qualidade da estrutura de concreto armado, além do aumento da produtividade e redução de mão de obra. 

Nesta metodologia, o fluxo contínuo de produção seguia até o pavimento da cobertura com a fachada argamassada sendo executada logo em seguida. Analisando sob a ótica contemporânea, estávamos trabalhando com um chassi no sistema de Construção 2.0, caracterizado pela estrutura convencional de pilares, vigas e lajes executadas in loco, juntamente com fachada argamassada.

Comparando com a nossa realidade atual (R3.0), onde temos um sistema construtivo C3.0 com chassi composto por estrutura de concreto armado com lajes cogumelo (dispensando o uso de vigas), percebemos o considerável aumento de produtividade e de possibilidades que obtivemos apenas ao alterarmos a forma de concepção da estrutura. 

Ao associarmos o sistema mencionado a uma tecnologia avançada de fachada (como parede de concreto ou fachada painelizada tipo Light Steel Frame), conseguimos, inclusive, eliminamos o sistema argamassado. Considerando que o conjunto estrutura de concreto armada x fachada, no share de um projeto 3.0 representa 30% de seu custo, o referido fato se torna ainda mais relevante.

Quando expandimos essa visão para outras etapas da obra, obtivemos diversas quebras de paradigmas, como por exemplo:

  1. Eliminação de contrapiso (piso morto);
  2. Substituição de vedações em blocos cerâmico/concreto por sistema dry.

Destaca-se que o uso do sistema dry nos fornece melhor planicidade das paredes e tetos, desempenho termoacústico superior, menor incidência de fissuras e menor carga nas fundações;

  1. Substituição do gesso liso nos tetos das áreas quentes por forro rebaixado (FR) em 100% do pavimento tipo;

De igual modo, o emprego do FR além de fornecer um melhor acabamento e servir para abrigar os capiteis, também possibilita a industrialização dos sistemas prediais (elétrica, hidráulica e ar condicionado), na medida em que permitem a passagem de tubulações externas às paredes e estrutura, facilitando a manutenção e garantindo a integridade do revestimento cerâmico ao longo do tempo.

Por fim, concluo afirmando que apesar de todos os pontos indicados romperem com fundamentos da Construção 2.0, eles, por si só, não são suficientes para a elevarem ao patamar de uma Construção 3.0. 

É preciso deixar claro que, somente é possível definir uma obra como industrializada quando todo o sistema de produção presente no canteiro de obras for redesenhado resultando em, literalmente, uma “Linha de Montagem” contínua, eficiente e integrada.

O referido assunto será abordado de forma mais detalhada em nosso próximo artigo.

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