Colunistas José Marmo

Evolução C 1.0 e construção 2.0; o que não aconteceu

Construção

C1.0 – Construção convencional “feito a mão”-evolução e C2.0 – Construção convencional “racionalizada”.
José Marmo

Ao longo das últimas quatro décadas, tivemos poucas evoluções técnicas no setor de construção civil. Até hoje os sistemas C1.0 e C2.0, convivem e se falam, mas não agregam nada em nossa evolução tecnológica.  Na verdade, o que estamos precisando é de uma verdadeira, “revolução tecnológica”.

É muita ousadia chamá-los de “sistemas construtivos”, pois eles pouco se falam nas atividades envolvidas.

Diria que o C2.0, é um sistema que está obsoleto, e a pergunta que se coloca é:

– Quando você percebe que seu sistema está obsoleto?

É uma definição muito polêmica pois envolve muita filosofia; mas se você pensar de forma simples, práticas e objetiva, diria…

Nota-se a obsolescência de um “sistema”, quando:

Você percebe que não domina mais suas diversas atividades e começa a gerar um passivo patológico cada vez maior, apesar de envolver um monte de procedimentos; exemplo: fachada argamassada; utiliza mão de obra intensiva, gerando um passivo trabalhista. Em seu dia a dia você não nota, mas ele (passivo) existe e está cada vez mais firme e forte. Os valores de produtividade são baixíssimos e se utiliza de muita mdo de apoio, que não gera produtividade e sim custos que não agregam nada aos sistemas; percebo ainda que ninguém está preocupado com isso.

Não tem melhoria contínua na sua essência técnica, aliás, nunca houve. Então, como você pode melhorá-lo? Uma boa definição de melhoria contínua é a garantia que a 2º obra executada é e sempre será melhor que a anterior, e assim sucessivamente.

Ausência total de indicadores em sua operação, tanto no canteiro de obras quanto no pós obra (big data). Aliás não temos nem data, o que diria big data.

Noto que os indicadores capturados sempre são cheios de dúvidas e incertezas. Ocorre que no final, são desprezados, e gera uma insegurança que já dura meio século.

Alguns exemplos:

            1.0 –  Estrutura de concreto armado (lançamento estrutural)

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Estrutura convencional, menor volume de concreto. Foto: Divulgação.

C 1.0 – Estrutura convencional formada por pilares, lajes e vigas, muitas vigas, o que torna aparente as estruturas mais econômicas (menor volume de concreto), numa visão mais simplória, mas  isso não é bem verdade quando você analisa com  uma visão mais sistêmica, face as diversas interferências com outras atividades, tais como, –  formas de concreto, alvenaria, sistemas prediais (EL.HD.EPA), fachadas, entre outros;

C 2.0 – Estrutura convencional formada por pilares, lajes e vigas, mas ao contrário da  C 1.0 que temos muitas vigas, os projetos avançaram na direção de se reduzir o número de vigas, onde passou a serem chamados de “lajes semiplanas”, pois ao longo do tempo, notou-se a dificuldade com a convivência desta peça estrutural (vigas) em outras atividades.

Em resumo, não houve nenhuma evolução, pois ainda hoje, os lançamentos estruturais se compõem de pilares vigas e lajes.

        2.0 Vedação em alvenaria e revestimento interno de massa

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A distribuição elétrica é executada através do embutimento das instalações nas alvenarias. Foto: Divulgação.

C1.0 – as vedações são executadas com blocos cerâmicos do tipo baiano, cujas principais características são:  serem leves, imprecisos, de pouca qualidade e não conversam com os outros sistemas, destacando-se nesta afirmação os sistemas prediais (El, HD e EPA). Sua principal vantagem é que tem bons índices de produtividade, pois a qualidade dos serviços não é levada em conta, já que deveremos ter um revestimento de massa sobre as alvenarias um tanto generoso (com grandes espessuras).

O fato de serem imprecisos e conviverem com as vigas da estrutura, resultam em deformidades ao longo da obra, face a acomodação das formas de concreto principalmente nos andares superiores, acarretando grandes espessuras de massa. Normalmente tem-se de 3 a 4 cm, de cada lado da alvenaria. E por último, estes blocos chegam à obra, à granel, muitas vezes sendo descarregados na calçada, junto ao tapume, gerando uma perda elevada devido a quebras.

C 2.0 – Já na C2.0, foi desenvolvido um sistema de vedação, também chamado de alvenaria modulada, que são compostos por uma família de blocos (1, ½, ¼ e 1/8). Estes blocos são de melhor qualidade, com alta precisão, mas são bem mais pesados, fazendo que o nível de produtividade seja mais baixo quando comparado ao C1.0.

É um sistema difícil de ser executado tendo as espessuras finais de massa, gesso liso, bem menores que no caso C1.0, a não ser que alguma viga tenha sua forma distorcida na concretagem, esp. 1 a 1,50 cm de gesso liso, de cada lado do bloco.

Normalmente estes blocos chegam à obra em paletes, mas numa formatação não adequada (paletes > 1,0 ton.), fazendo que não possam ir direto ao pavimento, gerando uma movimentação horizontal no pavimento térreo.

Em resumo, houve algumas alterações, que trouxeram benefícios ao “sistema”, mas continuamos a colocar bloco sobre bloco nas paredes, o que não deixa de ser um processo que deve ser melhorado.

      3.0 Fachadas argamassadas (revestimento externo de massa)

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Normalmente as espessuras médias das fachadas nestes casos, chega a 10 cm. Foto: Acervo.

C1.0 –  em face a tudo que foi dito nos itens de estrutura e vedação, acaba acarretando fachadas com grandes espessuras de massa, sendo comum o “escascamento” de certos locais da fachada, quando temos que aplicar tijolo maciço fixado a estrutura para permitir corrigir certas deformações mais espessas, o que vai acarretar no futuro patologias estruturais.

 Deve-se apontar também a difícil tarefa de monitorar os serviços, o que considero impossível. Na realidade, tudo aquilo que não se controla, não se evolui. 

C 2.0 – Tudo aquilo que falamos sobre revestimento de massa nas fachadas na C1.0, é válido também na C2.0; mas tivemos sim  evoluções nesta atividade, como por exemplo, a aplicação de argamassa projetada nas fachadas, balancins elétricos e mais leves e argamassas mais confiáveis e com melhor trabalhabilidade. Tudo isso refletindo em uma melhora na produtividade. Porém, continuamos a ter uma atividade com pouco controle, deixando as construtoras desamparadas, pois normalmente esses fornecedores são de pequeno porte, o que torna as construtoras mais vulneráveis principalmente quando se fala em passivo trabalhista.

Como esta atividade se torna crítica, em um momento que você está a pleno vapor nas atividades internas na torre, torna-se necessário a colocação de mais um guincho na torre, só para atender ao abastecimento de massa aos “fachadeiros”. Isso acaba interferindo em todo acabamento interno da torre.

Tudo isso acaba acarretando espessuras de massa mais reduzidas, mas dificilmente chega-se a conseguir espessuras média menores que 6,0 cm.

Como evolução, continuamos a fazer nossas fachadas argamassadas, uma atividade que carrega uma série de patologias.

          4.0 – Contra piso

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Necessário modificar os vícios de mestres de obras e engenheiros. Foto: Acervo.

C1.0 – Esta atividade nasceu em decorrência da má execução da estrutura de concreto, principalmente no nivelamento das lajes o que não permitia outra alternativa a não ser corrigi-las através de um outro piso (contra piso), podendo chegar a espessuras média superior a de 6 cm.

Chamo isso de peso morto, pois não agrega nada na nossa construção. Pelo contrário, é uma atividade a mais, gerando uma sobre carga, resíduos e atraso em outros serviços. Como o engenheiro/mestre sabe que terá um contra piso sobre a laje, é um motivo a mais à relaxar nas atividades das formas; é um vício que carregamos há tempos, sem que ninguém tente alterá-lo.

C 2.0 – Já na C2.0, como tivemos uma evolução na qualidade da estrutura, dá para se notar uma diminuição das espessuras do contra piso, mesmo assim, em torno de 4 a 5 cm de espessuras média. A ponto de se pensar em utilizar piso autonivelante, que para espessuras reduzidas, pode até ser uma solução, mas para espessuras superiores a 4 cm, torna-se inviável.

Em resumo, não houve nenhuma evolução, pois ainda hoje, aplicamos esta sobrecarga (burra), onerando as cargas de nosso projeto, refletindo em fundação e estruturas mais pesadas e onerosas.

       5.0 – Distribuição elétrica nas lajes / na alvenaria

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Laje com parte elétrica. Foto: Acervo.

C1.0 – No sistema construtivo C 1.0 as instalações dos sistemas prediais (EL, HD e EPA), são embutidas no concreto (distribuição EL), exigindo uma equipe relativamente numerosas de oficiais,  para não atrasar as concretagens, pois os eletricistas tem que se moldar ao prazo reduzido, pois a concretagem acontecerá de qualquer forma.

Noto que esta prática pode possibilitar na maior parte dos casos, uma maior espessura da laje, em função do grande número de eletrodutos aplicados principalmente na região dos Hall’s, acarretando diversos transpasses deles, implicando em uma maior espessura de contrapiso nestes locais.

 Noto ainda, de forma comum e rotineira, obstruções nos eletrodutos e que fatalmente induzem a necessidade prévia de se quebrar a laje para refazer os serviços.

C 2.0 – No sistema C2.0, não tivemos nenhuma evolução, pois continuamos a embutir os eletrodutos na laje, furando as formas para serem embutidas nas alvenarias, com as mesmas patologias mencionadas acima.

       6.0 – Ferragens estruturais

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As estruturas são preparadas na própria obra. Foto: Acervo.

C1.0 – as ferragens no C1.0 são preparadas na própria obra (corte e dobra in loco), acarretando a necessidade de áreas enormes para seu manuseio e operação (exige muita mão de obra para o manuseio das ferragens) além de atrapalhar a organização do canteiro de obras.

Normalmente as ferragens chegam em barras e são transferidas para dentro do canteiro pela mão de apoio.

O transporte destes materiais até a laje também não é fácil necessitando de mais modo de apoio.

Ainda hoje, vejo dois armadores direto retorcendo o arame recozido para poder amarrar as ferragens, onde poder-se-ia simplesmente aumentar a bitola do arame passando de  # 18 para # 16, e com economia pois utiliza-se o dobro e sua relação de custo e peso acaba compensando a substituição, possibilitando a retirada do canteiro de até duas pessoas.

C 2.0 – Na C2.0, começamos a utilizar o ferro cortado e dobrado, além de telas soldadas, refletindo em um canteiro mais organizado e nos dando mais segurança quanto a certeza dos espaçamento preconizados nos projetos, refletindo ao final numa sensível melhora na organização de seu canteiro, aumentando-se sua produtividade e reduzindo o número de pessoas. Mas ainda é pouco face ao enorme atraso do setor. 

       7.0 – Logística/mobilidade horizontal no canteiro / vertical – como a carga chega ao pavimento?

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C2.0. utiliza-se empilhadeiras. Foto: Acervo.

C1.0 /C 2.0 – a logística na C1.0 nunca foi levada a sério, pois sempre se utilizou mdo. de apoio em abundância; na verdade, gasta-se muita mão para executar estas duas tarefas no canteiro, a mobilidade horizontal e a vertical.

Chamo de mobilidade horizontal a força dispendida pelo seu “sistema construtivo” (valor físico e financeiro), para conduzir o material recebido ao almoxarifado. Esta mobilidade na C1.0 é executada exclusivamente por mdo.  de apoio em excesso;

Já na C2.0. utiliza-se empilhadeiras, que em face da carga excessiva dos paletes (> 1,0 ton.), acaba criando patologias, como por exemplo fissuras nas lajes onde ela transita.  

Na maior parte das vezes, há necessidade de se “despaletizar” a carga recebida ( > 1,00 ton.) e “repaletizá-las” (carga < 1,0ton) , gerando retrabalho.

….E a  mobilidade vertical, a força dispendida para conduzi-los ao local de aplicação (nos pavimentos;  tanto no C1.0 quanto na C2.0, este transporte é executado por guincho de grande capacidade ( ~ 2,0 ton.), posicionado em frente as varandas, atrasando os  serviços da fachada e no fechamento dos apartamentos desta prumada.

Utiliza-se também gruas de pequeno porte (até 1,0 ton.) que chamo de grua burra, para conduzir os blocos de concreto “repaletizados”, ferragens (baixa carga) para os pavimentos.

Para o lançamento do concreto, utiliza-se bombas de arrasto, que necessitam muita mão para sua operação, ocasionam deslocamento de caixas, elétrica e hidráulica, posicionadas na laje, além de danificar as ferragens negativas das lajes.

Noto muita dificuldade para a implantação da mobilidade horizontal e vertical no canteiro pois exige-se um alinhamento total entre as indústrias, aplicadores de mdo. e a construtora.

       8.0 – Mdo. canteiro

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Segurança é primordial. Foto: Acervo.

C1.0 / C2.0 – Por tudo aquilo que mencionamos acima nas diversas atividades analisadas, acaba acarretando uma intensiva mdo. (de apoio), distorcendo significativamente nossos índices de produtividade;

A mdo. de apoio normalmente não tem nenhum preparo para o trabalho e acaba se acidentando mais facilmente causando custos de indenização elevado.

No próximo artigo, pretendo mostrar os avanços obtidos quando passamos uma obra de C 2.0 para R 3.0 (realidade 3.0) e os benefício obtidos. 

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