Pense nos papéis como uma opção para formar um patrimônio diversificado, não como algo a ser trocado por dinheiro logo adiante. Acompanhar o Ibovespa hoje pode ser reconfortante, como foi desesperador no começo da pandemia de coronavírus.
Foram praticamente quatro meses (de muita emoção) para que o índice recuperasse seus 100 mil pontos.
A esguia silhueta do seu gráfico, no entanto, ignora informações importantes para quem busca oportunidades de investimento.
Um dos maiores problemas de pensar em ações de olho no Ibovespa é esquecer que ele reúne papéis das empresas consideradas as mais importantes do mercado. Assim, não reflete exatamente a situação da maioria das companhias, nem é uma média.
Mais de dez empresas estão, hoje, com suas ações valendo menos do que no dia 23 de março, dia em que o Ibovespa atingiu o que, até agora, foi o fundo do poço dos reflexos da Covid-19 na Bolsa.
Engana-se quem pensa que são papéis obscuros, ou de companhias pouco conhecidas.
As redes de supermercados Pão de Açúcar e Carrefour, a cadeia de farmácias Raia Drogasil e a enorme Embraer estão entra aquelas com ações custando menos hoje do que no fatídico 23 de março. Outras são a rede de diagnósticos Dasa, a holding de energia Alupar e a livraria Saraiva.
Cada papel conta uma história. A Embraer viu suas negociações para ser comprada pela Boeing irem ralo abaixo. Os fregueses dos supermercados ficaram em casa. A receita com perfumaria, valiosa para as farmácias, foi drasticamente reduzida.
Outras tantas ações se descolaram do Ibovespa e “andaram de lado” enquanto o índice subiu.
Quando haverá relaxamento do controle de entrada de clientes em lojas? As empresas mais afetadas têm fôlego para aguentar mais quanto tempo do jeito atual? Há perspectiva de mudança no seu funcionamento?
São perguntas para as quais nem os especialistas têm respostas. Por isso um exercício fundamental para o investidor é conseguir se enxergar como verdadeiro sócio da empresa. Não como um especulador, que vai enriquecer comprando ações no dia certo e vendendo na hora exata.
Daí a importância de olhar além dos índices, para as ações. E, ao enxergar ali possíveis oportunidades, buscar entender o que acontece com aquelas companhias.
Confie mais no seu faro (mas não cegamente) e acalme seus ânimos (sem dormir no ponto). Investir é ampliar seu patrimônio, passando a ter a parte de uma companhia ou de imóveis, no caso dos fundos imobiliários. E a paciência costuma ser premiada a longo prazo.
São raros os exemplos de empresas listadas na Bolsa brasileira que quebraram. Mesmo chegar à recuperação judicial é incomum. Casos como da Oi, gigante da telefonia em recuperação, chamam a atenção. As ações ordinárias desta, aliás, estão custando R$ 1,60, uma alta de 260% desde o fim de março.
Entre os papéis que subiram mais de 200% desde então, estão também Via Varejo, dona das Casas Bahia e do Ponto Frio, a petroleira PetroRio e a empreiteira Azevedo e Travassos. Cada uma, com uma história diferente. Todas bem além da subida de pouco menos de 60% do Ibovespa.
Se você frequenta farmácias e vê espaço para elas crescerem ou enxerga a possibilidade de bons contratos para uma empreiteira estabelecida no mercado, não deve ser o Ibovespa a 101 mil pontos, a desvalorização de 6% ou o aumento de 290% nos preços das ações a orientar seus investimentos.
Pense nos papéis como uma opção para formar um patrimônio diversificado, não como algo a ser trocado por dinheiro logo adiante. Assim, será mais fácil dormir bem e, talvez, ganhar alguns trocados.
Fonte: Folha de SP