Em entrevista para o site Valor, sócio fundador da Ibiuna e ex-diretor do BC falou sobre o papel da política monetária no combate à crise, BC decidiu tomar mais risco.
Em cerca de 45 dias de uma decisão de juros para outra, o Banco Central deu uma forte guinada na direção da política monetária em uma estratégia arriscada, que acaba repercutindo nos mercados financeiros, principalmente, na taxa de câmbio.
A autoridade monetária reduziu na última quarta-feira (06/05), a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, em um movimento mais agressivo que o esperado, e indicou um novo corte em junho, algo que dificilmente será revertido. Essa é a avaliação de Mário Torós, sócio fundador da Ibiuna Investimentos e ex-diretor de política monetária do Banco Central entre os anos de 2007 e 2009.
Em comentários feitos em live promovida pelo site Valor, Torós afirmou que a decisão da autarquia “não foi trivial”, já que a instituição saiu de uma postura cautelosa em março para uma atuação mais ousada em juros, mesmo com a deterioração da situação fiscal e da taxa de câmbio. “O Banco Central decidiu tomar mais risco com essa decisão”, afirmou o especialista. Tanto é que o câmbio hoje tem forte depreciação e os juros de longo prazo – importantes para financiamentos – estão subindo. “O Banco Central virou o barco. Os bancos centrais no mundo são como transatlânticos e andam devagar. Agora, deu uma guinada mais forte. É razoável pensar que não voltará para outro lado de novo”, explica.
Para ele, o que explica a nova postura é o fato de que a autoridade monetária está privilegiando a equilíbrio interno, por causa do aumento do hiato do produto – diferença entre o PIB e seu potencial – dada a forte quebra da atividade.
A questão é, em um momento de retomada, dar condições financeiras que possibilitem a recuperação através de crédito e demanda. Isso ocorre em detrimento do equilíbrio externo, como a forte saída de recursos do país. O ponto chave para ajustar esses dois fatores é a taxa de câmbio, que acaba sofrendo uma desvalorização adicional.
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Hoje, por exemplo, o dólar sobe a quase R$ 5,90 após a decisão de política monetária. O risco, então, é um efeito no canal de expectativas e no canal do câmbio, que estão sofrendo também devido à instabilidade política, riscos fiscais e efeitos da pandemia no mundo.
Para Torós, mesmo com a disparada da moeda americana, o Banco Central deve manter a estratégia que vinha adotando de intervenções pontuais no câmbio. “Tenho a impressão que a mensagem que o BC deu, ao anunciar a decisão de juros, é que o coerente seria não intervir pesadamente”, diz. “Estamos vendo esse ajuste e vai continuar ocorrendo, é intrínseco à decisão de ontem”, acrescenta.
Torós foi diretor de política monetária do Banco Central entre 2007 e 2009, período de efeitos agudos da crise financeira global.
Para ele, talvez até mais do que a depreciação do câmbio, o maior contribuidor para o ajuste na conta corrente é a queda da atividade econômica no Brasil, que derruba importações de forma mais significativa que as exportações.
Fonte: Site Valor Econômico