A climatização geotérmica de edificações é uma solução de conforto ambiental amplamente empregado na Europa e em países de clima temperado. Especialista e defensor do método no Brasil, o engenheiro mecânico Alberto Hernandez Neto lidera a pesquisa feita pela Poli-USP sobre esse sistema, detalhando as vantagens e desafios que envolve sua propagação por aqui.
“A essência da geotermia reside no aproveitamento do solo como uma fonte para dispersar o calor retirado do edifício. Diferentemente dos sistemas convencionais, nos quais condensadores ficam externos ao prédio, liberando calor para o ar externo, a abordagem geotérmica propõe direcionar o calor para o solo”, disse Neto.
Desenvolvido no Centro de Inovação em Construção Sustentável da Universidade de São Paulo, o estudo pretende realizar perfurações e aproveitar as estacas de fundação já existentes no laboratório para implantar a tubulação hidráulica que promoverá a troca de calor com o terreno.
Ilustração do sistema de climatização geotérmica | Crédito: Thaise Morais – Jornal USP
Neto pontua que a temperatura do solo na região se mantém estável entre 23 e 24 graus ao longo do ano, viabilizando uma transmissão térmica mais eficiente e garantindo a eficácia do sistema. Segundo o engenheiro, o ar condicionado é responsável por 40% a 50% do consumo energético em edifícios brasileiros. Nesse contexto, a climatização geotérmica além de ser uma tecnologia mais sustentável, também reduz significativamente o gasto com eletricidade.
DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA
Apesar das várias vantagens que apresenta, a democratização do sistema no Brasil possui desafios em termos de viabilidade econômica. O professor destaca que a climatização de um prédio inteiro implicaria em custos elevados em infraestrutura, citando como exemplo a climatização geotérmica integral da sede de 10 mil m² da Google, na Califórnia, que utilizou 4 mil estacas.
Experimento realizado na Escola de Engenharia de São Carlos | Tubulação de arrefecimento implantada nas ferragens das estacas | Crédito: Thaise Morais – Jornal USP
Experimento realizado na Escola de Engenharia de São Carlos | Execução de estacas com tubulação de arrefecimento | Crédito: Thaise Morais – Jornal USP
“Isso se torna um obstáculo comum, pois, ao planejar um sistema que atenda a toda a extensão do prédio, o custo associado à realização de múltiplas perfurações pode ser um impeditivo”, constata Neto.
Segundo o professor Neto, o investimento inicial de uma climatização geotérmica chegar a R$ 2 milhões com um payback médio de sete a oito anos, algo não tão atrativo para empreendedores brasileiros que priorizam retornos mais rápidos, geralmente de dois a três anos.
ALTERNATIVAS PARA UMA CLIMATIZAÇÃO GEOTÉRMICA MAIS BARATA
Analisando cases em todo o mundo, a equipe de pesquisa identificou que uma alternativa com potencial de reduzir os custos com infraestrutura seja a utilizada na climatização do metrô de Paris. No caso em questão, os projetistas optaram por utilizar tubulações incorporadas diretamente nas paredes dos túneis subterrâneos, reduzindo o custo com perfurações adicionais.
“Estamos explorando esse conceito em um projeto colaborativo com a professora Cristina Tsuha, do Departamento de Geotécnica da USP-SC. Analisamos diferentes configurações de geotermia, e é possível utilizar as paredes da garagem de um prédio, por exemplo, como fontes para rejeição de calor, maximizando assim a eficiência do sistema”.
Fonte: habitability
Crédito capa: Locação estacas CICS Living Lab-USP | Foto: Felipe Rau/Estadão