Número de vítimas por choque supera as de incêndios e descargas atmosféricas em acidentes de origem elétrica no relatório da Abracopel.
Em 2019, 697 pessoas perderam a vida por conta de acidentes causados por choques elétricos. É o que revela o mais recente Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica, divulgado pela Abracopel, a Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade.
O estudo reúne ocorrências divulgadas na imprensa local/nacional, além de relatos que chegam por meio de profissionais e empresas vinculados à associação. Todas os acidentes são checados antes de serem computados no levantamento.
O estudo revela que o choque foi mais letal do que outros de origem elétrica como incêndios por sobrecarga/curtos-circuitos (74) e descargas atmosféricas (50), o que mais uma vez reforça a urgência de melhorias nas instalações domésticas brasileiras.
Dentre as fatalidades causadas por choques, a faixa etária mais atingida foi a de adultos entre 31 e 40 anos (195 mortes), o que abrange os próprios moradores na tentativa de fazer pequenos reparos sem a devida instrução e proteção.
Os motivos mais comuns foram fio partido em ambiente interno (85), eletrodomésticos (52), cerca eletrificada (36), adaptador/extensão/tomada (25) e o até então aparentemente inofensivo carregador de celular (15).
Ações preventivas
Embora ninguém deseje voluntariamente receber um choque, os números evidenciam um grande descaso ou até desconhecimento de princípios da elétrica, causando um número considerável de mortes que poderiam ser evitadas.
“O choque ocorre quando o cabeamento da casa ou de um aparelho perde o isolamento por falta de manutenção ou uso inadequado. Uma vez expostos, os condutores energizados podem entrar contato com nosso corpo mesmo que indiretamente, pois materiais como a água e os metais são excelentes condutores de eletricidade”, explica Ricardo Martuchi, especialista em produtos da STECK Indústria Elétrica.
Seja ao construir ou reformar, a primeira medida de prevenção é sempre contratar profissionais capacitados. Boa parte dos acidentes vitimam os próprios moradores ou profissionais como pedreiros e pintores por imperícia nos procedimentos de dimensionamento, aplicação e manutenção.
A prevenção também depende de mudanças de hábito: jamais use matérias elétricos ‘piratas’, que não possuem qualquer certificação como o selo do Inmetro. Dispense gambiarras, adaptadores e extensões que podem provocar sobrecarga e assim aquecer os cabos a ponto de derreter o isolamento. Além de choques, isso pode provocar curtos-circuitos e originar incêndios.
A maneira mais eficaz de se identificar e evitar choques em casa é instalar o dispositivo Interruptor Diferencial Residual (IDR) nos quadros de energia. O nome pode parecer complicado, mas ele é de uso obrigatório em áreas de risco. Verifique com um profissional capacitado se você já possui um.
O IDR garante, por exemplo, a proteção contra as correntes elétricas ocasionais que possam passar pelo corpo humano em caso de contatos diretos ou indiretos, interrompendo-as no menor tempo possível.
Existem diferentes modelos de IDR, mas guarde bem o de referência 30 mA. Esta é a intensidade de corrente máxima que o ser humano pode suportar. Quando o IDR identifica uma fuga acima do valor de monitoramento, ele desarma o circuito e evita o que poderia ser um choque fatal.
“Existe um enorme gap a ser preenchido nas instalações antigas, que não previam o uso do IDR à época. Existia uma preocupação em relação ao preço do dispositivo, que hoje não se justifica pela competividade e variedade de mercado. É um investimento que salva vidas”, completa Ricardo.