Executivos do setor concordam que o crescimento da indústria de cimento está ligado diretamente à habilidade do Governo Federal de executar um planejamento organizado do setor de infraestrutura no Brasil.
A indústria de cimento precisa de estabilidade para crescer nos próximos anos. Este é o consenso entre os executivos do setor que julgam indispensável um planejamento de ações coordenadas na infraestrutura do País para alavancar a construção civil após a pandemia da Covid-19 e assegurar um crescimento sustentável e contínuo à médio e longo prazos.
Para o CEO da Cimento Mizu, Roberto de Oliveira, a situação atual com a pandemia da Covid-19 será superada, assim como outras crises que aconteceram em anos passados, mas o que o País necessita é de uma visão de crescimento contínuo. “Por quantos anos queremos crescer? É a pergunta que temos que fazer. Precisamos, no Brasil, das reformas tributária, administrativa e política, que irão oferecer segurança para potenciais investidores nacionais e internacionais ao longo dos anos. Com as reformas devidamente implementadas, podemos atingir um patamar contínuo de crescimento, uma perspectiva de crescer 3% ao ano nos próximos 50 anos”, diz Oliveira.
Segundo José Eduardo Ferreira Ramos, CEO da Cimento Nacional, o Brasil ainda enfrenta carência no setor de infraestrutura por falta de investimentos. Créditos: Divulgação.
O CEO da Cimento Nacional, José Eduardo Ferreira Ramos, concorda que as reformas e a estabilidade jurídica são questões indispensáveis para o planejamento do País de forma mais organizada. Para ele, a carência de infraestrutura é enorme no Brasil inteiro e a pandemia escancarou as diferenças sociais e tornou ainda mais radical a necessidade de ações coordenadas do Governo Federal neste sentido. “A indústria de cimento está associada a qualidade de vida, uma vez que está inserida na efetiva execução de obras para suprir a falta de saneamento básico em diversas regiões e o déficit habitacional, por exemplo”, afirma.
Já o presidente da Cimento Apodi, Emmanouil Mitsou, lembra que o Brasil, como um país em desenvolvimento, tem um potencial que ainda não foi atingido. “O consumo per capita de cimento no Brasil é de 260 kg, quando a média mundial é de 500 kg, número que sobe ainda mais para países em desenvolvimento. Só na China, por exemplo, o consumo chega a 1.200 kg per capita”, pontua.
O cenário pós covid-19, para o setor da construção civil, ainda é incerto. Créditos: Divulgação.
A dúvida entre os executivos é qual será o real impacto pós-pandemia no setor, porque os efeitos não foram sentidos ainda no mercado de vendas. Com o setor da construção civil em atividade, a venda de cimento a granel por meio das concreteiras está aquecida e o cimento ensacado também mantém números favoráveis em razão da autoconstrução.
O levantamento do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic) mostra que as vendas de cimento cresceram 3% em maio, na comparação anual, somando 4,8 milhões de toneladas. Entre janeiro e maio, houve uma queda de 0,3% em relação ao mesmo período de 2019. Segundo o Snic, os números estão sob o efeito da continuidade das obras imobiliárias formais, dos reflexos das medidas de auxílio emergencial familiar por parte do governo, além do uso de reservas pessoais para pequenas obras e reformas. Tais fatores, somados a uma inflação baixa, têm sustentado a massa salarial que, aliada ao fato de as pessoas permanecerem mais em casa, impulsionou a chamada autoconstrução, realizada pelo proprietário.
Portanto, o futuro está ligado diretamente à recuperação do País, porque o consumo de cimento reage intensamente à variação do PIB nacional e às taxas de desemprego. Um período de volatilidade é aguardado, mas não é possível prever a dimensão hoje.