A indústria no Brasil está sofrendo com a falta de matérias-primas em diversos setores da economia. O problema afeta a quantidade e a qualidade da produção nos mais diversos segmentos, inclusive na Construção Civil.
Segundo eles, a escassez desses insumos também é responsável por reajustes de preços de até 170% que estão atingindo toda a cadeia industrial e chegando aos consumidores finais.
Este problema começou no ano passado, com as medidas de restrição para conter o avanço da doença no país que interromperam, em diversos momentos, a produção de insumos importantes para a indústria, como aço, resinas de plástico, vidros e painéis de madeira. Quando a economia voltou a andar, também em alguns momentos, as encomendas foram maiores que os estoques que existiam e a volta da produção chinesa também impactou fortemente todos os segmentos.
Para complicar, muitas dessas matérias-primas são cotadas em dólar porque têm mercado em qualquer lugar do mundo. Com a valorização da moeda americana, esses insumos ficaram ainda mais caros e escassos. O suprimento de matéria-prima até vem melhorando devagar, mas os preços não estão baixando.
Segundo o diretor da Fiesp, “cada setor tem sua história de falta de matérias-primas”, mas há pontos em comum a todos eles.
Paradas da produção: Por causa da covid-19, muitas partes da cadeia da indústria interromperam a produção no segundo trimestre de 2020. Quando as cidades reabriram suas economias, os estoques não deram conta dos pedidos.
Concorrência mundial: Na hora de refazer os estoques de insumos, a indústria viu uma disputa maior pelos mesmos produtos. A atividade econômica em outros países voltou com força, em especial na China, que saiu comprando muito minério e aço, por exemplo. Essa disputa provocou escassez e aumento dos preços.
Dólar caro: Os preços subiram também porque o dólar se valorizou. Antes da pandemia, no fim de janeiro de 2020, ele valia R$ 4,29. Atualmente está na casa dos R$ 5,60.
O impacto na Construção Civil.
Quando a construtora tenta comprar aço da siderúrgica e não consegue, vai na distribuidora e se depara com um valor muito alto. Precisamos de um choque de oferta para restabelecer o equilíbrio com a demanda. Nossa proposta é a redução imediata do imposto de importação. José Carlos Martins, presidente da Cbic- Câmara Brasileira da Indústria da Construção.
Conforme um levantamento realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) para verificar o atual cenário da falta de insumos, 84% das construtoras estão desabastecidas de aço em suas regiões. A pesquisa consultou 206 empresas de todo o País.
Além disso as construtoras também responderam que o aço é o material que mais demora a ser entregue. Questionadas sobre o prazo médio de entrega das usinas em suas regiões, 39,3% das empresas responderam “entre 30 e 60 dias”, e 25,7% responderam “entre 60 e 90 dias”.
Para driblar a falta de aço no mercado nacional, empresas do setor de construção civil se reuniram em uma espécie de cooperativa para importar a matéria-prima da Turquia. De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (Sinduscon-PR), um pedido de 20 mil toneladas de aço desembarcou no Itajaí para atender as construtoras da Região Sul.
“Se o mercado nacional estivesse atendendo a demanda, não haveria a necessidade de importar aço da Turquia. O problema é que as empresas têm cronogramas de obras para executar, e não podem ficar paradas porque não conseguem comprar aço ou cimento”, explica Paulo Ercole, vice-presidente de Prestação de Serviços do Sinduscon-PR.
Segundo Ercole, mesmo com o dólar alto, o preço do aço importado tem sido inferior ao do nacional, por conta da escalada de preços vivida pelo setor durante a pandemia do novo coronavírus.
Por outro lado, o presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, Benjamin Steinbruch negou que esteja havendo falta de matéria-prima.
“Tem gente que quer passar uma falsa imagem de falta de produtos no mercado e isso não é bom porque não é verdade. O que aconteceu é que, como a perspectiva da economia estava muito ruim, todos foram obrigados a diminuir a produção a partir de março. Então, por falta de pedidos, a cadeia como um todo desativou as linhas de produção. Com a volta dos pedidos, a produção também está voltando”, afirmou.