O setor de leilões de rodovias, que sofreu um forte abalo depois da Operação Lava-Jato, voltou a ganhar mercado, mas envolvendo novos participantes: construtoras de médio porte.
Desde 2019 os leilões realizados, principalmente para rodovias estaduais, vêm sendo conquistados por este perfil: construtoras médias que atuam sozinhas ou em parceria com um grupo maior.
É o caso do Consórcio Way 306, que venceu um leilão de rodovias no Mato Grosso do Sul, no fim de 2019. O grupo é liderado pela GLP (empresa de logística sediada em Cingapura), com participação das empresas de engenharia Bandeirantes, TCL e Senpar. O exemplo mais recente é a licitação da última quarta-feira (13), de rodovias gaúchas, conquistadas pelo Consórcio Integrasul, composto pela Silva e Bertoli (da Neovia Engenharia) e Gregor (da Greca Asfaltos).
Já nos leilões federais feitos desde 2019, o padrão que predomina é o revezamento entre CCR e Ecorodovias. Dos cinco projetos do período, apenas um, a BR-163, ficou com um consórcio liderado por Conasa, em parceria com as empresas de engenharia Zeta, Rocha Cavalcante e M4.
Por um lado, o movimento das construtoras traz novos operadores ao mercado e eleva a competição. Por outro, há preocupação quanto à capacidade financeira e operacional das companhias, segundo analistas e empresas.
Um dos maiores desafios é o financeiro, avalia Danniel Zveiter, presidente da Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (Aneor). “O mercado de concessões é muito diferente e envolve um componente financeiro complexo, tanto para obter crédito quanto para a operação financeira do dia-a-dia”, diz ele.
Os consórcios de construtoras médias têm ganhado terreno, mas não são novidade. A maior referência é a concessionária MGO, composta por nove empresas de médio porte, que, em 2013, arrematou a operação da BR-050, entre Minas Gerais e Goiás.
À época, houve dúvidas sobre a capacidade do grupo. Ao fim, a concessionária ficou conhecida por ter sido uma das poucas a ter sucesso entre os contratos licitados durante o governo de Dilma Rousseff. Em 2018, as construtoras venderam o ativo à Ecorodovias. Desde então, integrantes do consórcio têm aparecido em diferentes leilões rodoviários.
Por exemplo, a Gregor (que faz parte do grupo vencedor do leilão da última semana) era acionista na MGO, assim como as três construtoras que se associaram à GLP no Consórcio Way 306. A Vale do Rio Novo, outra ex-integrante, liderou um consórcio que arrematou um lote de rodovias no Mato Grosso, no fim de 2020.
Esses consórcios tendem a ganhar espaço no atual contexto, em que os Estados aderiram em massa às concessões rodoviárias, o que gerou uma oferta enorme de leilões – para um número limitado de operadores, afirma Camillo Fraga, sócio da consultoria Houer.
No passado, as concessões de infraestrutura já foram dominadas pelas grandes construtoras. Após a revelação dos escândalos de corrupção e a crise econômica do país, a maioria se desfez dos contratos – muitas seguem nesse processo até hoje – e deixou de participar dos leilões. A principal “sobrevivente” dessa era é a CCR, controlada pela Mover (ex-Camargo Corrêa), Soares Penido e Andrade Gutierrez – esta última está em processo de venda de sua fatia para Votorantim e Itaúsa.
A saída das empreiteiras deixou um vácuo, que foi sendo preenchido aos poucos – houve a entrada de grupos financeiros e de outros segmentos, como Pátria e GLP. Porém, com a recente multiplicação de leilões rodoviários, ganhou força a percepção de que é preciso atrair mais grupos.
Para analistas, há o risco de nem todos os consórcios de construtoras terem sucesso. Porém, o movimento é visto como uma grande oportunidade para formar novas plataformas no país.
Fonte: Valor