Na busca pela redução das emissões de carbono, edifícios e casas sustentáveis começam a atrair projetos de construtoras e incorporadoras brasileiras que estão em busca de certificações verdes.
O Brasil tem hoje pelo menos 3,5 mil construções certificadas ou em fase de certificação, que atendem vários critérios definidos por organismos nacionais e internacionais. Além de atestar o projeto como sustentável, o selo ajuda a atrair investimentos, valoriza o imóvel e seus requisitos reduzem custos para os moradores.
O número é pequeno diante do total de obras no País, mas vem crescendo anualmente desde que o ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) passou a ser vital para as empresas e requisito por parte de investidores. O foco maior são imóveis comerciais de alto padrão e, mais recentemente, também de residenciais. Na categoria popular, há pelo menos um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida (MCMV) com o “selo verde”, no Paraná.
No segmento de médio/alto padrão, uma das referências é o Idea Bagé, em Porto Alegre (RS). Foi o primeiro edifício residencial no País a receber a certificação máxima nesse segmento, a GBC Condomínio Platina, do Green Building Council (GBC Brasil). A organização faz parte do World Green Building Council (WGBC), criada nos EUA e com representações em 70 países. No ano passado, a entidade emitiu 139 certificados, 41% a mais em relação a 2021. Os registros (quando o processo começa a ser analisado) subiram 38%, para 219.
Há várias empresas certificadoras e diferentes categorias de selos, mas a base de todas elas tem a ver com economia de água e energia, uso de materiais sustentáveis, conforto dos ocupantes, impactos na sociedade e eficiência.
Os certificados são fornecidos por organizações credenciadas e todo o processo é acompanhado por consultorias especializadas que assessoram as empresas na obtenção do selo (que tem diferentes categorias e pontuações) e verificam o cumprimento dos requisitos. A taxa para obtenção do selo e a consultoria podem custar de R$ 100 mil a R$ 200 mil.
A GBC Brasil contabiliza 2.131 certificados e registros desde 2007, quando iniciou atuação no local. Somente com o selo Leed, subdividido em Platinum, Gold e Silver, o GBC Brasil conta com 1.908 projetos. Esse número coloca o Brasil em quinto lugar no ranking internacional da entidade avaliado em 186 países. À frente, e bem distante dos demais países, estão EUA (com 76,7 mil selos), China (8,1 mil), Canadá (7,5 mil) e Índia (4,2 mil). O GBC também concede as certificações nacionais Casa&condomínio, Life e Zero Energia.
O presidente do conselho do GBC, Raul Penteado, afirma que a procura pelo certificado já vinha crescendo, “mas foi acelerada com a pandemia, que levou as pessoas a pensarem na necessidade de morar melhor”. Ele avalia que ampliar esse movimento para projetos populares é um desafio. “Muitas vezes é preciso aceitar pagar um pouco a mais na compra, por exemplo, sabendo que depois vai economizar no resto da vida.”
A Fundação Vanzolini, ligada à Escola Politécnica da USP, é outra certificadora no Brasil com o selo Aqua-HQE, uma adaptação da certificação francesa Démarch HQE com atuação maior em empreendimentos residenciais. A Fundação também trabalha com o selo Procel, voltado à questão da energia. Desde 2008 foram certificadas mais de mil construções, das quais cerca de 900 são edifícios e casas residenciais, a maioria do Estado de São Paulo.
“É um número pequeno, pois não atingimos nem 0,25% do mercado que poderíamos atingir”, afirma o arquiteto Bruno Casagrande, gestor de Negócios da área de certificação da Fundação Vanzolini. Segundo ele, há um crescimento orgânico de registros, muito concentrado em São Paulo.
Ele avalia que o custo da obra não é impedimento para obter o selo, pois às vezes pode ser até inferior à não sustentável, mas há grande resistência por parte de empreendedores mais conservadoras. “É uma mudança de padrão que começa no canteiro de obra”, diz. Casagrande ressalta que o valor do condomínio chega a ser 20% a 30% mais barato comparado ao de tradicionais. A valorização do imóvel chega a 20% e o tempo de venda e de vacância também é inferior para os sustentáveis.
Fonte: Estadão