Por Paulo Oliveira/Toyota
- Introdução
Recebi de um amigo um link para uma matéria sobre o protótipo da “cidade do futuro” da Toyota, que me deixou extasiado. Após absorver o conteúdo e fazer uma rápida pesquisa, decidi publicar este artigo, transcrevendo alguns trechos do material que li. Afinal, os japoneses estão fazendo algo inusitado, ou seja, levando para a escala de “verdadeira grandeza” tudo que há de mais moderno em tecnologia e inovação, na era da transformação digital, para facilitar e melhorar o dia a dia das pessoas.
Para isso, estão projetando e construindo um ecossistema específico e tornando possível a exploração das inovações tecnológicas voltadas para o ambiente doméstico e urbano, em uma cidade especialmente planejada, onde certamente as experiências dos habitantes darão contribuições riquíssimas para acelerar a velocidade do desenvolvimento das tecnologias atuais.
Afinal, na “jornada do cliente”, o feedback tem enorme valor para podermos entender de fato quais são os atributos realmente necessários a cada produto, na perspectiva do cliente. Muitas vezes somos traídos por pesquisas de mercado, em que tentamos extrair o que o cliente deseja, quando na verdade, ele mesmo não sabe o que quer! Neste âmbito, testar, avaliar obter o feedback e ajustar o produto, suas características e atributos, antes de partirmos para uma escala massiva, pode fazer enorme diferença no caminho para o sucesso.
- A Cidade do Futuro
Em 06 de janeiro de 2020, a Toyota informou num evento em Las Vegas, que construirá um protótipo da “cidade do futuro”, em uma área de 175 acres, na base do Monte Fuji, no Japão.
Trata-se de uma smart city denominada “Woven City”, que será construída a partir do “zero”, como uma base de testes para todos os tipos de tecnologias, e poderá se tornar um dos lugares mais futuristas do mundo para se viver. Será um ecossistema totalmente conectado, alimentado por células de combustível líquido de hidrogênio. Isto, sem dúvida é uma decisão corajosa no que tange aos veículos, ao ignorar as baterias de lítio em favor deste “combustível limpo”, refletindo o compromisso da Toyota com veículos de propulsão a hidrogênio, como a solução de transporte do futuro. Vale lembrar que uma vantagem importante do hidrogênio sobre outras alternativas é exatamente o reabastecimento rápido em viagens longas, característica que não poderá ser explorada na cidade do futuro.
Ainda é difícil prever se este combustível será viável e eficiente, pela exigência de grande quantidade de água para a sua produção e ainda, pelas dificuldades de armazenamento e transporte, já que o hidrogênio é altamente explosivo no ar. Como contraponto, vale nos lembrarmos do desastre do dirigível alemão LZ 129 Hindenburg, em 6 de maio de 1937, em Lakehurst, Nova Jersey, nos Estados Unidos, que resultou em 36 mortes.
Woven City nasce com o conceito de um “laboratório vivo” e será o lar de cerca de 2.000 pessoas, num primeiro momento. Este número será incrementado, com o desenvolvimento da cidade, que deverá ter sua construção iniciada em 2021. A Toyota priorizará os seus próprios pesquisadores, mas abrirá espaços para aposentados, famílias, varejistas, cientistas e prestadores de serviços que queiram participar desta experiência de futurologia, num ambiente em que poderão ser testadas e desenvolvidas inovações e tecnologias voltadas para autonomia, robótica, mobilidade pessoal, smart houses e inteligência artificial, em escala real.
No subsolo, a cidade manterá o seu armazenamento de hidrogênio e filtragem de água. Também haverá um serviço de entrega subterrânea, operado por pequenos robôs. A Toyota pretende usar a Woven City para testar todos os tipos de tecnologias domésticas. As residências serão equipadas com as mais recentes tecnologias de suporte humano, incluindo robôs para serviços domésticos, geladeiras com auto-reabastecimento, sensores para o monitoramento da saúde dos ocupantes e latas de lixo com auto-esvaziamento, dentre outros itens para melhorar a vida cotidiana, criando uma oportunidade de implantar inovações e tecnologias, com integridade e segurança.
Pods autônomos ocuparão espaços públicos, com opções de alimentos e de compras pop-up. Sensores alimentarão todos os sistemas de inteligência artificial com dados que serão utilizados para tornar tanto o transporte como a vida diária mais fáceis e eficientes. A Toyota também planeja priorizar as conexões humanas e a integração da comunidade, como uma forma de combater a desconexão digital, hoje um problema comum de grandes centros urbanos. Para isso a Woven City contará com parques nos bairros e com um grande parque central para recreação, com muitas áreas verdes, além de uma praça central, para a reunião da comunidade. A Toyota acredita que incentivar a conexão humana será um aspecto extremamente importante dessa experiência.
- Plano Diretor e Sistema Construtivo
O plano diretor da cidade incluirá três tipos de vias: um para veículos mais rápidos; outro misto, para veículos de velocidade moderada, mobilidade pessoal e pedestres; e o terceiro para uso exclusivo de pedestres. Estas vias se entrelaçarão para formar uma “grade orgânica”. acelerando os testes de autonomia. Para se deslocarem os moradores utilizarão somente veículos autônomos. Serão permitidos nas principais vias, apenas veículos com emissão zero.
Para este projeto a Toyota contratou o escritório de arquitetura Bjarke Ingels Group (BIG), que assina muitos projetos renomados no mundo, tais como: o 2 World Trade Center em Nova York, a Lego House na Dinamarca e a sede do Google, em Mountain View.
A Woven City será totalmente sustentável, com edificações fabricadas principalmente com madeira de reflorestamento, de forma a minimizar a pegada de carbono, combinando a marcenaria japonesa com métodos de fabricação digital e ainda com a utilização de robótica. As coberturas serão constituídas por painéis fotovoltaicos para a geração de energia solar, além da energia gerada por células de hidrogênio. A Toyota pretende compor o paisagismo das áreas abertas da cidade, com vegetação nativa e hidropônica.
- Conclusão
Olhando para a nossa realidade, já há algumas cidades inteligentes no Brasil, sendo as duas primeiras a Smart City Laguna, com 330 hectares, na região metropolitana de Fortaleza e outra smart city na região metropolitana de Natal, com 170 hectares. Ambas são empreendimentos do grupo italiano Planet. São núcleos urbanos que priorizam a população de baixa renda e deverão ser ocupados por população bem maior do que a Woven City.
Como conceito, uma smart city investe em capital humano e social e explora a tecnologia e a Internet das Coisas (IoT) para coletar dados, de forma a otimizar a sua gestão e aumentar a eficiência das suas operações, conectando os cidadãos, com o objetivo de oferecer aos mesmos melhor qualidade de vida. Busca-se a máxima eficiência na gestão da infraestrutura e dos ativos urbanos, incluindo os sistemas de transporte, educação, saúde, energia, abastecimento de água, distribuição de energia, redes de dados, saneamento, segurança e edificações públicas, etc. Com isso há melhora na qualidade, desempenho e interatividade dos serviços e consequente redução de custos e do consumo de recursos.
Está embutido no conceito de smart city um ambiente propício à criatividade, ao aprendizado individual e coletivo e à inovação, através de iniciativas e equipamentos apropriados oferecidos à sua população, disponibilizando conhecimento e infraestrututura digital para a comunicação, garantindo a conectividade.
São características de uma smart city o compromisso e a consciência em relação à sustentabilidade (cidades inteligentes são também cidades sustentáveis), mobilidade, transparência e gestão pública participativa, sempre com o objetivo de contribuir para a melhora da qualidade de vida dos seus habitantes.
A Woven City é um projeto de smart city muito ambicioso, com visão de futuro que supera de longe as grandes realizações que a Toyota registrou em seu glorioso passado. Será um laboratório vivo de grande abrangência, que englobará os seguintes itens e aspectos:
De acordo com Akio Toyoda, presidente da Toyota Motor Corporation: – “Construir uma cidade completa desde o início, mesmo em pequena escala como essa, é uma oportunidade única de desenvolver tecnologias futuras, incluindo um sistema operacional digital para a infraestrutura da cidade. Com pessoas, prédios e veículos todos conectados e se comunicando por meio de dados e sensores, poderemos testar a tecnologia de inteligência artificial conectada tanto no mundo virtual quanto no físico, maximizando o seu potencial “.
Certamente acompanharemos a evolução das smart cities no Brasil e no mundo, já que este tema está em ebulição e deverá atingir uma elevada taxa de crescimento. Não sei se “os nossos japoneses são melhores”, mas vale a pena olhar de perto o que a Toyota fará em Woven City!
Segue o link para quem quiser conhecer mais sobre este projeto: https://www.woven-city.global/
Fonte: Toyota