A industrialização da construção civil está em franca aceleração, em resposta aos urgentes problemas setoriais, que têm como consequência atrasos expressivos nas obras e a queda dos resultados das operações.
Apesar disso, existe uma resistência à mudança de empresas do setor para evoluir e ingressarem na jornada da industrialização, mesmo diante dos riscos de perderem o controle de custos e prazos e de não atingirem os resultados projetados.
Neste artigo, abordarei como a aceleração da industrialização é feita atualmente e quais são os desafios que o setor enfrenta.
Boa leitura!
A aceleração da industrialização atualmente
Especialistas em engenharia de resultados vêm integrando três metodologias:
- Pré-construção;
- Fast Construction;
- BIM (até a etapa de Orçamentação).
Desta forma, promovem o avanço gradual e seguro das operações de engenharia e construção na sua jornada da industrialização.
Este trabalho é realizado através da inserção gradual, evolutiva e eficiente de elementos de construção off-site e de módulos, em projetos de construção tradicional.
Vantagens da abordagem de integração
Essa abordagem gera segurança, permitindo que novos processos e tecnologias sejam inseridos e absorvidos na rotina das empresas, em estágios, com vantagens significativas e agregação de valor aos projetos, produtos e empreendimentos.
A utilização dessas metodologias e ferramentas, de forma inteligente e bem conduzida, aliada à análise e gestão de riscos, garante que todos os aspectos do projeto sejam considerados, desde o seu conceito, aumentando a sua eficácia.
A Pré-Construção na aceleração da industrialização
A Pré-construção, usa ferramentas tais como:
- Target Costing;
- Engenharia e Análise do Valor (EAV);
- Lean Construction;
Quando usadas, permitem o desenvolvimento de projetos, planejamento e orçamento mais racionalizados, precisos e robustos. Conforme a evolução das etapas de projeto, são refinados e ganham consistência por meio dessa abordagem dinâmica.
Isso se dá através de um trabalho eficiente de logística e de supply chain, o que promove:
- Rapidez da fabricação e montagem;
- Previsibilidade de custos e prazos;
- Fluxo contínuo de produção.
Esta abordagem, assegura a construtibilidade, a qualidade e o desempenho dos produtos entregues.
O papel do Target Costing
O Target Costing é particularmente importante, porque permite, a partir da definição do custo-alvo para o produto ou empreendimento – que deve ser factível – efetuar todo o trabalho de Pré-construção.
Desta forma, o projeto é desenvolvido para que o custo-alvo estipulado seja efetivamente atingido. Trata-se de processo mais inteligente, em que não se admite que o projeto seja desenvolvido desconectado de uma meta de custo para o produto.
Este costuma ser um ponto de estresse, particularmente para as incorporadoras e construtoras, levando-as a um trabalho enorme para viabilizar os seus projetos e empreendimentos, nem sempre com resultado satisfatório, seja pelas menores margens geradas ou pelo sacrifício de conceitos do produto que impactam o valor percebido pelo cliente.
Contribuições às Construtoras e Incorporadoras
As contribuições geradas para as empresas do setor são notáveis.
1. Redução de Custos
Construtoras e incorporadoras que abraçam essas práticas investem num primeiro momento. Porém, registram a redução gradual dos:
- Custos operacionais;
- Despesas indiretas;
- Prazos de entrega.
Além disso, têm a segurança crescente na consecução dos resultados planejados e maior controle dos seus custos e prazos, na medida em que avançam na industrialização.
Ao implementar essa abordagem, as empresas de engenharia de resultados especializadas nesta metodologia, atuam de forma integrada às empresas construtoras e incorporadoras, evitando-se a redundância de recursos.
2. Otimização de Processos
Os processos são aprimorados e redesenhados, reduzindo-se desperdícios e ineficiências, ao mesmo tempo em que os profissionais de engenharia, suprimentos, orçamento e planejamento das construtoras e incorporadoras ingressam no universo da construção modular e off-site.
Isso resulta em melhor colaboração entre todos os stakeholders do projeto, facilitando a comunicação e assegurando que as expectativas sejam atendidas.
Como consequência, a rentabilidade dos projetos melhora e a reputação das empresas no mercado é fortalecida, em reconhecimento ao ganho de eficiência e ao compromisso com a tecnologia e com a inovação.
3. Fortalecimento das Práticas ESG
A implementação dessas metodologias resulta em produtos mais leves e eficazes, o que contribui para a sustentabilidade e para a menor extração de recursos naturais e também para a significativa redução do desperdício.
Na construção off-site e modular os projetos são elaborados para obter eficiência hidro energética. O consumo de energia e de água na produção são muito menores do que os da construção tradicional, o que colabora com as melhores práticas de ESG.
Na perspectiva social, gera-se empregos melhores, com maiores salários nos processos de produção e montagem. No que tange à governança, as operações de construção mais industrializadas atuam com práticas e diretrizes alinhadas às da indústria, em geral.
Como acelerar a industrialização de um projeto
Figura 1. Algumas possibilidades de industrialização em um projeto
A Figura 1 apresenta algumas possibilidades de industrialização em um projeto, para os diversos sistemas construtivos. Certamente há outras possibilidades não elencadas como, por exemplo, os sistemas de cobertura.
É importante que o estudo das soluções seja apoiado por um trabalho bem planejado de logística e supply chain, considerando:
- O conceito do projeto;
- Tipologia de cada edificação;
- Fornecedores locais ou regionais para os componentes;
- Capacidade de produção das indústrias de construção off-site e modular.
Na Pré-construção, estudos paramétricos comparam as soluções numa matriz de decisão apontando os custos, os prazos e os benefícios das diferentes alternativas para cada uma delas, permitindo decisões acertadas para que o produto apresente o desempenho, os custos e os prazos planejados.
Este trabalho é sempre mais eficaz quando o Target Costing é adequadamente empregado na Pré-construção.
Os desafios da aceleração da industrialização
Alguns desafios merecem destaque.
1. Transformação da Mão de Obra
Na jornada da industrialização, torna-se crucial a transformação de funções tradicionais, como pedreiro, encanador e eletricista, em profissionais multifuncionais — os montadores.
A industrialização da construção demanda menor quantidade de mão de obra direta nos canteiros de obra e nas fábricas, contudo com ganhos substanciais de produtividade, permitindo que os montadores sejam mais bem remunerados. Isso reduz a rotatividade da mão de obra e aumenta a segurança nos canteiros, criando um ambiente de trabalho mais estável e eficiente.
2. Transição para Métodos Industrializados de Produção
Questões culturais, como resistência a mudanças, dificultam a adoção de novas práticas. Medos e objeções, especialmente quanto aos custos iniciais de implementação e a necessidade de capacitação de equipes, são comuns.
Para superar esses obstáculos, é essencial:
- O compromisso da alta gestão em desenvolver uma cultura organizacional e um ambiente que incentive a criatividade e a inovação;
- A adaptação às mudanças, investindo na capacitação da equipe, em tecnologia, em ferramentas e processos;
- Uma posição firme em relação à relevância da industrialização para o futuro do negócio.
Faz-se também necessário promover o trabalho em equipe e a cooperação entre colaboradores, especialistas, fornecedores e consultores, priorizando a logística e a integração da cadeia de suprimentos.
É, portanto, necessário que haja uma mudança de mentalidade nas organizações, bem como a conscientização sobre os benefícios de práticas inovadoras, inserindo a aceleração da industrialização como uma questão estratégica e de sobrevivência.
3. Planejamento Estratégico Assertivo
Figura 2. Jornada da Industrialização: estratégia de projeto e de produção
A Figura 2 apresenta uma boa estratégia de implementação da industrialização em empresas do setor de construção.
Deve-se definir claramente com o cliente o escopo e os objetivos do projeto, criando-se os “Gates” 1 e 2 (pontos de decisão), após as etapas de Pré-construção e de Desenvolvimento.
No Gate 1 ocorre no Estudo de Viabilidade do Projeto e, no Gate 2, a Validação e Análise de Desempenho do Protótipo. A decisão pelo avanço para a próxima etapa ou o retorno à etapa anterior para revisões e ajustes é realizado em cada Gate, por um profissional destacado pelo cliente, com autonomia para tomar decisões por ele.
Somente após as aprovações nos Gates 1 e 2 é que o projeto do produto está finalizado e pronto para a produção.
Conclusão
Industrializar é urgente: não esperar a “água bater no nariz”!
A matemática da industrialização tem sido mal realizada e tem sido uma justificativa para que empresas e profissionais se mantenham na zona de conforto e não avançarem na jornada da industrialização.
Essa matemática tem que ser feita de forma correta e sistêmica, o que possibilitará uma visão realista dos impactos e benefícios gerados, inclusive na redução de custos.
Sugere-se a implementação da análise e gestão de riscos e a definição de metas e indicadores de desempenho, qualidade e produtividade, para monitorar e gerenciar os avanços e os resultados.
Um planejamento cuidadoso, a criação de uma cultura adequada à Inovação, bem como a capacitação contínua da equipe é fundamental para garantir que todos se adaptem às transformações e às novas tecnologias.
Ao alavancar tecnologias inovadoras e acelerar a industrialização da construção, as empresas do setor da construção civil:
- Aprimoram a eficácia de seus projetos, produtos e empreendimentos;
- Estabelecem um novo padrão de excelência na indústria;
- Aproximam-se dos setores industriais mais desenvolvidos;
- Comprometem-se mais com a sustentabilidade;
- Geram resultados mais atrativos numa visão de médio e de longo prazo;
- Sinalizam um caminho promissor para o futuro do setor.
O apoio de profissionais e de empresas experientes que dominam a construção off-site e modular, bem como a Fast Construction, um projeto integrado, em BIM e a Pré-construção e suas ferramentas, acelera sobremaneira a jornada da industrialização.
Querido PS
Excelente artigo .
Eu acho pessoalmente muito difícil se viabilizar a industrialização sem haver padrões .
Tem que ter padrões de quartos, padrões de banheiros , padrões de kits área de serviço , padrões dimensionais de salas, sacadas, cozinhas , entende?
Por exemplo : salas podem ser quadradas, retangulares , em “L” etc e dd várias dimensões : mini, pequena, média, grande etc
Sem padrão não seria possível ter ganho de escala industrial , para se obter maior produtividade.
Estes padrōes deveriam ser definidos pelo IPT, por algum órgão do Estado, dentro de um plano de governo, para financiar casa própria .
Eu acho se não houver este compromisso com governo , será muito difícil viabilizar “a industrialização da construção “ pela iniciativa privada !
Quis te deixar esta reflexão para sua avaliação .
Forte abraço e sucesso !!