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Apesar de avanço no setor imobiliário, médio prazo preocupa

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Juros baixos, oferta de crédito barato e demanda represada explicam crescimento do setor imobiliário

Classificada como surpreendente por analistas do mercado imobiliário, a recuperação das vendas dos imóveis residenciais na cidade de São Paulo vem de uma conjunção de fatores e do setor imobiliário. Economistas, empresários e especialistas se reuniram na segunda-feira, 5, em São Paulo, e discutiram no Summit Imobiliário 2020 os fatores que levaram à essa retomada e o que o mercado tem de fazer para manter de forma sustentável esse crescimento no médio prazo.

O summit, realizado pelo Estadão em parceria com o Secovi-SP, foi aberto pelo diretor presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto, e teve, entre outros convidados, a presença do governador de São Paulo, João Doria. Para Mesquita, dados recentes do mercado imobiliário não deixam dúvidas. “Apesar de o mundo ainda enfrentar uma severa pandemia, que vitimou mais de um milhão de pessoas, podemos afirmar que o otimismo está voltando tanto à indústria da construção quanto entre os principais agentes do segmento imobiliário”, disse.

Entre os fatores apontados para a recuperação do mercado imobiliário destacou-se a taxa de juros de 2% ao ano, a menor desde o início da série histórica brasileira em 1996. Além disso, a paralisação da economia provocada pela pandemia do novo coronavírus, principalmente, no segundo trimestre de 2020, fez com que os lançamentos de novos produtos fossem adiados. Soma-se a isso, também, a grande oferta de crédito relativamente barato disponível para contratação, seja por compradores ou investidores.

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Crédito: Divulgação

Dados

Os números de agosto ajudam a encorpar a análise. Segundo a pesquisa mensal do mercado imobiliário realizada pelo Secovi-SP, a quantidade de novas unidades vendidas ficou 129% acima do previsto pelo setor no início do ano, ainda antes da pandemia. Se entre janeiro e agosto de 2020 a quantidade de lançamentos na capital ficou 34% abaixo do mesmo período do ano passado, o número de imóveis vendidos até agora está praticamente empatado em relação ao ano passado, considerando também os mesmos meses do ano. A defasagem a favor de 2019 está na casa de 1%.

“Existe uma demanda reprimida, mas os números apontam para uma retomada consistente que inclusive vai se refletir na geração de empregos no setor da construção civil”, afirma Celso Petrucci, vice-presidente de área da Comissão da Indústria Imobiliária da Câmara Brasileira da Indústria da Construção e economista-chefe do Secovi, presente no evento. “Entre julho e agosto foram lançadas 10 mil unidades em São Paulo e se vendeu mais do que se lançou.”

Para Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre-FGV), outra convidada, a retomada registrada pelos dados dos últimos meses é surpreendente. “Muito por causa da rapidez com que o setor se organizou. A taxa de juros baixa também é um atrativo”, diz a especialista do setor. Segundo dados do mercado, há opções de contratação de financiamento imobiliário com taxas inferiores a 7% ao ano.

Projeções

Se o cenário é positivo, e os números que mostram a retomada das vendas de unidades residenciais na capital paulista devem mostrar o vigor do setor inclusive em 2021, o horizonte ainda está um pouco nublado quando se tenta planejar o médio prazo. E o grande risco é que o crescimento dos próximos meses não seja sustentável a partir de 2022.

“Antes de mais nada ainda temos um desafio fundamental que é que lidar com as incertezas geradas pela própria pandemia. Não sabemos se vai ter uma segunda onda de infecções ou não”, afirma Ana Maria. Em um segundo momento, diz a especialista, é importante notar como a própria economia do País vai se comportar.

“Do ponto de vista macroeconômico, temos a questão fiscal. E como vai ser o crescimento da economia, da renda e do trabalho?” De acordo com a analista, essas respostas são fundamentais. São elas que vão determinar a sustentação do setor. Se forem positivas, explica Ana Maria, significa que a capacidade das famílias de se endividarem e tomarem financiamento não vai ficar comprometida.

É importante notar, na avaliação da pesquisadora da FGV, que a janela de crescimento aberta agora foi dada mais pelo passado. Pelas unidades que foram lançadas, construídas e vendidas. Processo que vai invadir todo o ano que vem. “Mas, quando pensamos um pouco mais para a frente, é diferente. Como temos um perfil de demanda concentrado na renda, a melhora da economia vai ser fundamental para dar sustentação às vendas”, diz.

Por causa dos juros baixos no Brasil, o investimento em imóveis passou a ser atrativo, o que também pode gerar distorções no futuro. Além dos investidores tradicionais, várias pessoas estão retirando seus recursos de aplicações como renda fixa e poupança para investir em imóveis. “É claro que é um bom momento para isso, mesmo porque, se você não tem todo o recurso, ainda pode contratar um financiamento. Tem ainda as famílias que estão se sentindo seguras para tomar um empréstimo por 25 ou 30 anos. Mas e a sustentação disso? Como a projeção é que as taxas de juros vão subir, a rentabilidade dos investimentos financeiros vai se alterar”, disse.

Portanto, para Ana Maria, a questão realmente importante é saber quanto a retomada da economia e do mercado de trabalho vai ser suficientes para manter a venda dos imóveis aquecida por vários anos.

‘A vida é aquilo que acontece enquanto se faz outros planos’

O presidente do Secovi-SP, Basílio Jafet, recorreu ao músico John Lennon (1940-1980) para demonstrar o impacto da pandemia sobre o planejamento do setor imobiliário, que começou o ano com grandes perspectivas no horizonte. “A vida é aquilo que acontece quando você está fazendo outros planos.”

Com a pandemia, de acordo com o dirigente, todos tiveram de adiar sonhos e reprogramar as atividades, o que não significa que o setor da construção civil não mostrou uma enorme capacidade de adaptação. “Como fomos considerados atividade essencial, as obras continuaram com todos os protocolos de segurança.” Segundo Jafet, com a reabertura dos estandes, o mercado voltou a vender, e muito. “A casa tornou-se porto seguro.”

Apesar dos números dos últimos meses serem favoráveis, o presidente do Secovi disse que os ventos serão realmente favoráveis quando o País tiver uma reforma administrativa real, uma simplificação tributária e programas eficientes de privatização.

Fonte: Terra

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