Morar em um local em que você se identifique e obtenha um bem estar maior no dia a dia é um conceito que vem ganhando cada vez mais força. Utilizando técnicas de psicologia e arquitetura, o conceito de psicoarquitetura surgiu para auxiliar arquitetos a conhecer melhor seus clientes e deixarem os projetos com o estilo deles, aumentando a satisfação com o resultado final dos projetos.
A arquiteta e urbanista Giovanna Gogosz – criadora do primeiro curso de extensão de Psicoarquitetura reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) – explicou em entrevista à Casa Vogue o que a levou a, junto da melhor amiga e psicóloga Cecília Peres, desenvolver uma grade curricular sobre o tema, para profissionais que queiram se aprofundar no assunto.
“A casa é um espaço que mexe muito com as pessoas, traz muitos traços sobre elas, tem muito a agregar na construção da identidade. A psicoarquitetura hoje é focada em entender como os espaços interferem na vida delas, tanto em termos de cura, evolução, conexão das relações humanas”, conta, citando a base da psicanálise defendida por Freud, Jung e Winnicott, de que um dos grandes símbolos da esfera humana é a casa, como referência.
“O principal é buscar entender qual a essência e identidade da pessoa, sair da arquitetura mais plástica, das tendências e o que combina, e entender a essência humana. Assim como um psicólogo entrevista a pessoa para entender as demandas e conflitos, nós praticamos o psicobriefing, uma metodologia para entender os traços dela e trazer de maneira material para o ambiente”, diz a arquiteta.
O importante é que o cliente se identifique com o ambiente projetado pelo profissional que contratou, resultando numa conexão maior e desenvolvimento de memória afetiva.
“Percebemos que quem vive em espaços que se identifica passa a se desenvolver em várias áreas da vida muito melhor, tanto profissional quanto relacionamentos, ou em família, quando se trata de um espaço coletivo. Quando as pessoas não se sentem conectadas com a própria identidade, tendem a desenvolver ansiedade, depressão e até problemas psíquicos mais graves”, defende.
Giovanna dá um exemplo prático. “Imagina você fazer um projeto para sua melhor amiga, ou decorar a festa de aniversário dela. Você conhecendo a pessoa, sabe o que vai realmente agradar. Ela vai dizer ‘é a minha cara’ e vai trazer felicidade”.
Quem mora em casa alugada também pode fazer as mudanças para conseguir bem estar. “Trazemos muito a questão da identidade com a decoração. “Quadros, almofadas, tapetes, estampas que representem a pessoa, é fácil aplicar. E a pintura, depois dá para reverter, quando for entregar o imóvel”.
Ela conta que, embora já gostasse do tema, não encontrava algo voltado para isso e decidiu se aprofundar. “Acho que muitos arquitetos têm esse lado de querer trazer algo humano, mas eu não encontrava um nome para isso, uma metodologia, parecia só um jeito meu de querer fazer as coisas com mais significado”
Mesmo fazendo uma pós-graduação em neurociência para arquitetura, Giovanna ainda sentia falta de algo que se aprofundasse em personalidade, identidade e conexão. “Quando fiz terapia, gostei do processo e comecei a me entender em muita coisa. Buscava cursos na área, não existiam, comecei a estudar por conta própria coisas da psicologia e trazer para esse universo. Fui me aprofundando, buscava essas práticas junto aos clientes e eles davam feedbacks muito bons”.
A grade curricular do curso de extensão universitária aborda, entre outros temas, psicologia, psicanálise, relação com o ambiente, escuta e empatia. O processo para elaborar a extensão universitária e conseguir a chancela do MEC levou um ano. Com duração de 6 meses, uma nova turma terá inscrições abertas em fevereiro de 2023.
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Fonte: Casa Vogue