Segundo recente levantamento publicado em março na revista “The Economist“, os assim chamados millennials – aqueles nascidos entre 1981 e 1994 – aquela que já foi conhecida como Generation Rent (ou geração aluguel), já representa mais da metade dos pedidos de hipotecas nos últimos dois anos nos EUA. É o segmento de mercado que mais cresce, sendo responsável por aproximadamente 60% do crescimento nas vendas de imóveis residenciais desde 2020, segundo estimativas. No vizinho do norte, Canadá, quase metade dos adultos entre 25-35 anos compraram ou desejam comprar uma propriedade. E na Grã-Bretanha do brexit, segundo as últimas pesquisas, mais millennials preferem comprar a alugar. O que aconteceu?
Entre esses fatores está mesmo a pandemia, ou melhor, a consequência dela, como o maciço advento do trabalho remoto – que vem se perenizando de forma total ou parcial. Muitos jovens entenderam ser melhor ter mais espaço, comprar imóveis maiores, sobretudo casas em cidades fora dos grandes centros, para trabalharem, criarem filhos eventuais, dedicarem-se às suas atividades pessoais e de lazer.
Somado a isso também há o fato da própria expansão do crédito e, ao mesmo tempo, do elevado custo de aluguel nas grandes cidades, em regiões bem localizadas. Por exemplo, um locatário em São Francisco, segundo o Zillow (uma empresa líder de listing de propriedades) teria que economizar parte de sua renda (em torno a 3% ao mês) por 70 anos nessa cidade para conseguir dar entrada num imóvel que, em Austin, no Texas, em apenas 6 a 7 anos conseguiria comprar. A idade média do comprador do primeiro imóvel nos EUA é 32 anos.
E no Brasil? Aqui não é, nem nunca foi diferente, ao contrário do largamente apregoado pelas profecias geracionais (desconfie delas: são amplamente fadadas ao erro devido à sua inevitável generalização – é sua força e fraqueza ao mesmo tempo).
A maioria dos compradores de imóveis no segmento econômico – o de maior volume –, segundo a Brain Inteligência Estratégica, tem menos de 35 anos, fato igualmente confirmado pelos agentes financeiros que fornecem o crédito. E estamos falando, senhores, de um país que tem algo como um milhão de casamentos oficiais por ano – fora o resto.
Além disso, a situação no Brasil é mais complexa: veja-se o recente aumento dos aluguéis pelo IGPM. Mesmo que alguns inquilinos tenham conseguido negociar, isso não valeu para todos. A situação do locatário é bastante incerta quanto à sua longa permanência no mesmo lugar, dado os aumentos de custo e a possibilidade muito real do proprietário, quase em sua totalidade uma pessoa física, solicitar o imóvel de volta. Nos EUA e Europa a maior parte dos alugueis são com monoproprietários empresariais ou governamentais, isto é, há muito mais perenidade potencial na relação.
Na verdade, quem trabalha no mercado sempre soube desse fato. Quando se dizia que os jovens millennials não queriam comprar imóvel – o que era totalmente desmentido pelas estatísticas – lembrava-me da fábula de Esopo, segundo a qual as uvas eram “verdes” para a raposa porque ela não conseguia as alcançar. Não é que o jovem não queria o imóvel; é que ele não o alcançava ou alcança. Mais fácil alugar; ou na verdade, era o que tinha de possível para ele – fato que o próprio programa Minha Casa Minha Vida e suas continuidades vieram por alterar. É difícil encontrar pessoas no Brasil que digam amar alugar um imóvel; mas quase todas dirão que comprar seu primeiro imóvel foi uma ótima oportunidade em suas vidas.
Assim, somo ao conselho saudável rodrigueano de envelhecer (se possível), a seguinte recomendação: jovens, comprem imóvel! Enquanto puderem. Porque vai ficar mais caro e mais difícil. Então, aproveite enquanto isso ainda te alcança, antes que o imóvel fique mais caro que a própria fábula.
Marcos Kahtalian– sócio-fundador da Brain Inteligência Estratégica
Fonte: Haus