A forte retração registrada na segunda quinzena de março reflete o impacto da pandemia apenas parcialmente as consequências do isolamento social.
Depois de cerca de 50 dias de quarentena na maioria das cidades do país, o avanço lento do calendário vai mostrando os impactos da pandemia sobre os indicadores de atividade. Uma boa síntese é o IBC-Br, índice do Banco Central considerado pelo mercado como prévia do PIB. Em março, o indicador registrou queda de 5,9% na comparação dessazonalizada com o mês anterior. Entre janeiro e março, o recuo foi de 1,95% frente ao quarto trimestre de 2019. A queda foi menor na comparação com o mesmo período do ano anterior: 0,28%. No acumulado em dozes meses até março, o índice registou alta de 0,75%.
Com esses números, o próprio governo Federal fez um ajuste abrupto em sua projeção. Da estimativa de crescimento zero, feita em março, o Ministério da Economia passou a projetar queda de 4,7% neste ano. E condicionou essa projeção ao fim do distanciamento social ainda em maio, cenário bastante improvável a partir dos números da pandemia no país e da fala recente de governadores de estado. Talvez por isso, em uma estimativa mais realista, o Fundo Monetário Internacional esteja projetando queda do PIB brasileiro entre 5% e 5,3% no mesmo período.
Apontam na mesma direção, os resultados de outras pesquisas mensais do IBGE.
Em março, já descontada a influência sazonal, a indústria teve queda de 9,1% frente ao mês anterior. Créditos: Divulgação.
Pela primeira vez na série histórica regional, houve retração em 15 unidades da Federação. Na mesma base de comparação, a queda no setor de serviços ficou em 6,9%, com retração muito forte do segmento de serviços prestados às famílias (31,2%). Outros destaques ficaram por conta das atividades de alojamento e alimentação, com queda de 33,7% e transportes aéreos, com recuo de 27,5%, sempre na comparação dessazonalizada com fevereiro.
Créditos: Divulgação.
Ainda nessa base de comparação, a queda do volume de vendas no varejo (conceito restrito) foi menor: 2,5%. Essa retração “mais suave” em termos relativos deveu-se em grande medida ao crescimento das vendas nos supermercados (14,6%).
Mas, considerando o conceito ampliado, que inclui veículos automotores e peças e materiais de construção, o desempenho foi bem pior: 13,7%. Essa foi a queda mais expressiva da série histórica iniciada em 2003. No caso específico de materiais de construção, o mês de março registrou queda de 17,1% no volume de vendas.
Vale destacar que comércio e serviços são responsáveis por mais de 65% do PIB total do país, o que deve contribuir fortemente com o desempenho deste último indicador no trimestre encerrado em março. A divulgação desses resultados pelo IBGE está prevista o início de junho.
Fonte: SindusConSP