Segundo Relatório de Mercado Focus divulgado essa semana, a previsão é que fecharemos o ano 2021 na faixa de 3,5%, de olho em 2021 .
Em tempos de pandemia, esta “liderança da política monetária” acaba sendo ofuscada pela necessidade de impedir o colapso da demanda agregada a partir de todo um arsenal de medidas fiscais: auxílios emergenciais para os informais, postergação do pagamento de impostos, empréstimos com recursos do Tesouro.
No entanto, como a crise atual representa, a um só tempo, a ocorrência de dois choques, um de oferta e outro de demanda, surge o alerta: estímulos à preservação – ainda que parcial – dos níveis de renda e demanda frente à contração da oferta não poderiam ter consequências indesejáveis em termos de elevação inflacionária? Muito embora esse seja um cenário teoricamente possível, sua probabilidade de ocorrência no Brasil hoje é nula. As medidas de preservação do emprego e da renda serão certamente apenas paliativas.
Um bom exemplo pode ser encontrado no mercado de trabalho formal. Jornada de trabalho e salários mensais estão sendo cortados, comprometendo diretamente o poder de compra das famílias. Ao mesmo tempo, ainda que sejam somados o auxílio emergencial e as liberações de PIS e FGTS, a massa total de rendimento dos trabalhadores, formais e informais, deve sofrer retração proporcionalmente maior do que a atividade econômica como um todo, mensurada pelo PIB. Estimavas do IBRE-FGV revelam uma queda entre 6% e 13%. Somem-se a isso as restrições aos canais de distribuição do varejo e as promoções, que estão sendo realizadas em alguns serviços que estão operando, ainda que de forma restrita. Educação e cuidados pessoais estão entre esses serviços, cujos preços efetivamente praticados estão sendo reduzidos, mesmo que em caráter promocional.
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Mas, a “prova dos nove” da questão inflacionária deve, evidentemente, ser buscada no comportamento dos próprios índices e das expectativas. Nesse sentido, nos doze meses encerrados em março, o índice oficial do regime de metas, o IPCA, acumulou alta de 3,4%, ligeiramente acima da taxa Selic contemporânea de 3,75%. A variação do índice no mês de março foi de apenas 0,07%. Ao mesmo tempo, na edição mais recente do Relatório Focus, as expectativas de mercado são de que o IPCA encerre o ano em torno de 2,5% e a Selic em 3,25%.
Ainda assim, o impacto inflacionário provocado pela crise atual se reflete nos IGPs que, por questões metodológicas, refletem de forma mais efetiva a forte alta da taxa de câmbio. Nos dozes meses encerrados em março, o IGP-M acumula alta de 6,8% e as projeções do Focus sugerem que encerre 2020 em 4,8%. Mas vale reforçar: esse não é o parâmetro do regime de metas, nem corresponde à inflação que impacta a demanda das famílias consumidoras.
Esses números permitem afastar a preocupação de que a economia brasileira está diante de um choque de oferta capaz de colocar a inflação em uma preocupante trajetória de elevação. Dado que o centro da meta inflacionária é 4% com tolerância de 1,5 p.p. para mais e para menos, as expectativas de mercado são de que o IPCA encerre o ano muito próximo do piso. Para 2021 – com todas as dificuldades de olhar para um futuro assim “tão distante” – as projeções do Focus estão na faixa de 3,5%. Ou seja, a inflação não está dentre nossas preocupações mais graves hoje.
Fonte: Site Sindusconsp