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81% das micro e pequenas indústrias estão sem acesso ao crédito

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Um terço das empresas também usa cheque especial para honrar compromissos, acesso ao crédito.

falta de acesso ao crédito ainda afeta 81% das micro e pequenas indústrias, apontou o 10º boletim de tendências do setor feito pelo Datafolha a pedido do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria).

O número caiu em relação ao levantamento anterior –feito de 6 a 14 de agosto e que apontava que 83% dessas empresas não conseguiam empréstimos–, mas ainda mostra uma piora ante os meses anteriores, quando essa porcentagem alcançou 79% na última quinzena de junho e chegou a cair para 76% no final de julho.

“A pesquisa aponta que houve uma melhora em relação à situação financeira dessas companhias com a reabertura da economia, mas existem alguns números que ainda são preocupantes. Existem empresas que até chegaram a conseguir crédito no início da crise, mas cujos recursos já acabaram. E uma em cada quatro ainda usam o cheque especial para honrar compromissos”, afirmou o presidente do Simpi, Joseph Couri.

Dos entrevistados, 41% afirmaram que a situação financeira da empresa está regular (mesmo percentual da pesquisa anterior), enquanto outros 34% disseram que a situação financeira da companhia está boa ou ótima (contra 30%). Já o número de empresas que consideram que a situação financeira está ruim ou péssima caiu de 29% para 25% na mesma relação.

A pesquisa mostra também que 23% das micro e pequenas indústrias estão usando o cheque especial para honrar seus compromissos, queda de dois pontos percentuais em relação ao levantamento anterior.

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Crédito: Divulgação

Os últimos dados do Banco Central, referentes ao mês de julho, apontam que o saldo existente no mercado financeiro para empréstimos de cheque especial corporativo alcançou R$ 6,8 bilhões, o menor patamar da série histórica iniciada em 2007.

“É importante observar que, apesar de o cheque especial ser uma modalidade que caiu bastante para pessoas jurídicas, é o único produto onde é possível perceber uma ascensão significativa de inadimplência desde o início do coronavírus”, afirmou o consultor de negócios da FICO, Eduardo Tambellini.

Ainda segundo o BC, a inadimplência da modalidade nos empréstimos para empresas ficou em 22,6% em julho, o maior patamar desde janeiro de 2016 (quando estava em 27,3%).

Nesse sentido, a falta de acesso ao crédito pode ser o início de um ciclo de dívidas para as empresas que não tiverem cuidado, afirma Maurício Godoi, professor da Saint Paul Escola de Negócios.

“A situação entre outubro e novembro pode ser crítica, já que além da taxa de juros gigantesca do cheque especial, é um período que coincidirá com início de cobrança das parcelas que foram adiadas no primeiro semestre, com a folha de pagamentos que foi cortada ou suspensa e também com os tributos que foram adiados pelo governo”, afirmou Godoi.

No início do ano, os grandes bancos do país e o governo federal tomaram diversas medidas como forma de conter o avanço da crise do coronavírus. Dentre as ações, estavam a liberação de novas linhas de crédito, a possibilidade de suspensão ou corte de salário e jornada e o adiamento e renegociação de dívidas com vencimento no período.

As taxas de juros do cheque especial ficaram em 295,2% ao ano –o equivalente a cerca de 12,13% ao mês.

“Também é preciso cuidado porque até agora a economia não recuperou o suficiente para que, em caso de necessidade, haja a possibilidade de uma linha de antecipação de recebíveis”, disse Godoi.

Para o gerente executivo de política industrial da CNI (Confederação Nacional da Indústria), João Emílio Gonçalves, a demanda por capital de giro em condições adequadas ainda é muito grande e apesar da espera por mais recursos via Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) –programa de crédito do governo– a expectativa é de que ainda haja uma recuperação desconectada na indústria.

“É um pouco complicado porque, na hora da recuperação, não volta todo mundo ao mesmo tempo. Pode ser que algumas empresas se levantem antes, mas sem a demanda que tinham no pré-pandemia ou antes que seus fornecedores consigam acompanhar o ritmo de crescimento por falta de capital de giro. Vemos recuperação, o que é um bom sinal, mas ainda tem muita coisa a ser feita e muitas medidas que precisam perdurar para que as companhias consigam passar por esse momento”, disse.

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